quarta-feira, março 02, 2005

A vida intelectual dos macacos – 4


Há uma confusão entre fazer uso da liberdade e ser livre. Todos nós temos a sorte de fazer parte de uma sociedade relativamente liberal, em que temos a possibilidade de usar a liberdade de múltiplas formas. Contudo, isso é apenas o ponto zero. A partir daí, cada um tem que se mexer para conquistar a sua liberdade.

Talvez uma das maiores catástrofes do século XX tenha sido a separação, por contaminação ideológica, da liberdade económica de todas as outras liberdades. Isso ainda é bem visível em Portugal, tão virado à esquerda, em que domina a opinião de que um homem para ser livre, o Estado não deve dizer o ele pode fazer na vida privada, mas deve regular toda a sua vida colectiva.

Naturalmente isto não é dito desta forma, mas de maneira mais ardilosa. As liberdades religiosa, de associativismo, de expressão são intocáveis. Sobre a liberdade económica, logo se acenam com os papões do capitalismo selvagem, de exclusão social, da diferença entre os ricos e os pobres, mas também do corte dos subsídios e da segurança do trabalho. Ao mesmo tempo, promete-se que um Estado enorme, que nos cuide da saúde, educação, segurança social e nos garanta um posto de trabalho para sempre, evita todos estes males.

Em geral, estes papões são um insulto à inteligência das pessoas. Simplesmente diz-se a elas que o mercado (termo sempre preferível às alusões à liberdade económica) é o responsável por todos os males. Aproveita-se também a tradição cristã que diaboliza a criação de riqueza, para impedir o pensamento sobre estas matérias. Que na verdade, são complexas.

A simples liberdade económica sem algumas instituições fortes que possam garantir a liberdade individual (e o mínimo de coesão social), não tem pernas para andar. Da mesma forma, a liberdade política (e toda uma série de direitos adquiridos) sem uma concomitante liberdade económica que a possa sustentar, também tem vida curta. Mas ambas as liberdades, que na verdade são só uma, só podem resistir se existirem pessoas que lhes dêem o valor que têm.