quinta-feira, março 03, 2005

A vida intelectual dos macacos - 5


Como já tinha dito anteriormente, confunde-se o uso da liberdade com o ser-se livre de forma efectiva. Contudo, ao invés de voltar a falar de implicações sociais, vou agora voltar-me para domínios mais íntimos.

O ocidente voltou-se para a espiritualidade. Contudo, há uma erro de base por pensar-se que os domínios espirituais se atinjam pelo intelecto ou qualquer prática de efeitos rápidos. Talvez seja por isso que “Shobogenzo”, de mestre Dogen, que é um dos livros mais extraordinários da humanidade, não tem tradução para português. Enquanto que qualquer livro de Paulo Coelho tem milhares de vendas, e não há livraria que não tenha uma bancada reservada a matérias esotéricas de conteúdos mais que duvidosos.

Contudo, não é âmbito deste blog abordar temáticas destas de forma aprofundada, por isso vou ater-me a uma manifestação colateral desta presumível espiritualidade. Uma das razões que certas pessoas se interessam por certas filosofias orientais não está directamente relacionadas com questões de progressão interior, de desenvolvimento das suas capacidade ou sensibilidade. As verdadeiras razões são bastante mais mesquinhas que isso. Ao invés de depararem com filosofias castradoras, encontram ideias quase libertárias, que aparentemente não apenas permitem mas parecem incentivar que se faça tudo o que se passa pela cabeça.

Mais que isso. Tenho constatado ainda que, pessoas que durante anos se foram ligando a estas filosofias (e eu sou uma delas...) desenvolvem a capacidade de responder a tudo de forma ambígua (chutar para canto). Aos olhos dos incautos, parecem ter atingido um certo grau de libertação, por se moverem numa lógica de relativismo absoluto. E acabam por ser profundamente niilistas, inconsequentes mas dando o ar de serem superiores a “questões menores”.