O rapto da inocência (I)
Aos portugueses diz-se faltar-lhes uma mentalidade competitiva e empreendedora mas, por outro lado, são generosos e solidários. Apesar de achar que é uma avaliação globalmente errada, é acima de tudo confusa, construída a partir de ambiguidades na linguagem, falácias e alguma hipocrisia.
Uma falácia tem a ver com a falta de capacidade empreendedora portuguesa, como se fosse quase algo genético. Contudo, o que a realidade mostra é que com as condições adequadas, a capacidade empreendedora lusa evidencia-se. Alguns ainda pensam que as condições certas são um nível adequado de incentivos. Muito pelo contrário, estes incentivos aguçam apenas o apetite daqueles que nunca estavam dispostos a construir nada de especial, mas são oportunistas bem sucedidos, nascidos para viver de mão estendida. Pelo contrário, as condições adequadas são aquelas que facilitam a criação e destruição (criativa) de negócios, e que permitem a quem cria riqueza o seu desfrute.
Em relação à mentalidade competitiva, penso que é um assunto que flutua na ambiguidade. A visão moderna dita constantes estudos de benchmarking, numa tentativa de aperfeiçoamento constante, quer para não ficar atrás da concorrência, quer para a superar. Mas, na prática, o que está implícito é a competição consigo mesmo, para fazer sempre melhor. Deste ponto de vista, a mentalidade competitiva, virada para o auto-aperfeiçoamento ainda é deficitária por cá. Contudo, se considerarmos outro tipo de competição, em que a única coisa que importa é a relação entre competidores, e por isso a estagnação pode ser uma vitória desde que o adversário entre em défice, o caso muda de figura. Neste aspecto, os portugueses são altamente competitivos, alegram-se facilmente com o mal dos outros.
São duas abordagens radicalmente diferentes sobre a competição. A primeira, com o objectivo de fazer sempre melhor, considera que é o próprio indivíduo o agente de mudança. O indivíduo luta por objectivos que passam também a ser seus, talvez até possa ajudar a defini-los. Como o fulcro da competição se encontra no próprio indivíduo, em relação ao exterior ele é naturalmente cooperativo, nomeadamente em relação aos seus colegas de trabalho. A avaliação de uma empresa concorrente serve sobretudo de referência, e por incrível que pareça, acontece empresas concorrentes cooperarem em alguns aspectos. A estratégia pode ditar que é benéfico ajudar para ser ajudado.
Já a segunda abordagem, que procura a alegria no mal dos outros, nunca põe em hipótese ser o indivíduo um agente de mudança. Quem tem este tipo de mentalidade acha a estagnação o estado normal do ser. Se algo corre mal, dispara em todas as direcções, são os seus superiores, os seus subordinados ou os seus colegas em igualdade de posição os culpados, ou então alguma força exterior obscura. Todas as hipóteses são levantadas menos a de admitir as próprias responsabilidades. Mas em geral, esta mentalidade subsiste num clima de alguma segurança. Nestas circunstâncias, o indivíduo envolve-se numa competição destrutiva com os seus colegas, com os quais deveria cooperar. Este tipo de indivíduos tornam-se especialistas em criar mau ambiente de trabalho, ao mesmo tempo que desenvolvem uma retórica impenetrável que tenta colocar todos na defensiva.
Quem possui este tipo de mentalidade é especialmente cruel para quem se inicia num determinado local. O objectivo é claro, domar o mais rápido possível quem pode vir cheio de energia e vitalidade, quem quer aprender e fazer melhor. Nem sempre a hostilidade é aberta, havendo mil e uma formas de se denunciar. Pode ser informação que se nega “por não saber” ou “não se lembrar”, ou favores que se pedem amiúde mas se concedem raramente por “falta de tempo”, ou então informação errada que se dá por “engano” e que pode induzir em graves erros, ou conselhos de “amigo” que se dá para a pessoa “se dar bem” e não criar conflitos nem arranjar problemas para si. Mas não raras vezes a hostilidade é aberta, agressiva, quase demente. São autênticos actos de terrorismo psicológico que se cometem para que alguém se demita ou fique com o espírito em frangalhos.
Por incrível que pareça, são muitas vezes os indivíduos com esta mentalidade competitiva orientada para a destruição os mais críticos sobre este estado de coisas. Não haverá certamente uma motivação única para tal. Poderá ser apenas uma questão de maldade pura, de quem usa qualquer estratagema para sacudir a água do capote. E o que fazem se os confrontarem, com evidente contradição entre o que dizem e o que fazem? Simples, entram no relativismo absoluto. Esta maravilhosa forma de pensar, que nada deve aos factos, consegue não só desculpar-se de qualquer acção ignóbil como “provar” que são acções justas e correctas, que só pecam por serem tão brandas. A ameaça velada de poderem fazer ainda muito pior é mais um elemento de chantagem eficiente. Pior ainda é quando o indivíduo fala com sinceridade e atingiu um tal ponto de alienação que nem percebe que faz parte do problema e não da solução.
Uma falácia tem a ver com a falta de capacidade empreendedora portuguesa, como se fosse quase algo genético. Contudo, o que a realidade mostra é que com as condições adequadas, a capacidade empreendedora lusa evidencia-se. Alguns ainda pensam que as condições certas são um nível adequado de incentivos. Muito pelo contrário, estes incentivos aguçam apenas o apetite daqueles que nunca estavam dispostos a construir nada de especial, mas são oportunistas bem sucedidos, nascidos para viver de mão estendida. Pelo contrário, as condições adequadas são aquelas que facilitam a criação e destruição (criativa) de negócios, e que permitem a quem cria riqueza o seu desfrute.
Em relação à mentalidade competitiva, penso que é um assunto que flutua na ambiguidade. A visão moderna dita constantes estudos de benchmarking, numa tentativa de aperfeiçoamento constante, quer para não ficar atrás da concorrência, quer para a superar. Mas, na prática, o que está implícito é a competição consigo mesmo, para fazer sempre melhor. Deste ponto de vista, a mentalidade competitiva, virada para o auto-aperfeiçoamento ainda é deficitária por cá. Contudo, se considerarmos outro tipo de competição, em que a única coisa que importa é a relação entre competidores, e por isso a estagnação pode ser uma vitória desde que o adversário entre em défice, o caso muda de figura. Neste aspecto, os portugueses são altamente competitivos, alegram-se facilmente com o mal dos outros.
São duas abordagens radicalmente diferentes sobre a competição. A primeira, com o objectivo de fazer sempre melhor, considera que é o próprio indivíduo o agente de mudança. O indivíduo luta por objectivos que passam também a ser seus, talvez até possa ajudar a defini-los. Como o fulcro da competição se encontra no próprio indivíduo, em relação ao exterior ele é naturalmente cooperativo, nomeadamente em relação aos seus colegas de trabalho. A avaliação de uma empresa concorrente serve sobretudo de referência, e por incrível que pareça, acontece empresas concorrentes cooperarem em alguns aspectos. A estratégia pode ditar que é benéfico ajudar para ser ajudado.
Já a segunda abordagem, que procura a alegria no mal dos outros, nunca põe em hipótese ser o indivíduo um agente de mudança. Quem tem este tipo de mentalidade acha a estagnação o estado normal do ser. Se algo corre mal, dispara em todas as direcções, são os seus superiores, os seus subordinados ou os seus colegas em igualdade de posição os culpados, ou então alguma força exterior obscura. Todas as hipóteses são levantadas menos a de admitir as próprias responsabilidades. Mas em geral, esta mentalidade subsiste num clima de alguma segurança. Nestas circunstâncias, o indivíduo envolve-se numa competição destrutiva com os seus colegas, com os quais deveria cooperar. Este tipo de indivíduos tornam-se especialistas em criar mau ambiente de trabalho, ao mesmo tempo que desenvolvem uma retórica impenetrável que tenta colocar todos na defensiva.
Quem possui este tipo de mentalidade é especialmente cruel para quem se inicia num determinado local. O objectivo é claro, domar o mais rápido possível quem pode vir cheio de energia e vitalidade, quem quer aprender e fazer melhor. Nem sempre a hostilidade é aberta, havendo mil e uma formas de se denunciar. Pode ser informação que se nega “por não saber” ou “não se lembrar”, ou favores que se pedem amiúde mas se concedem raramente por “falta de tempo”, ou então informação errada que se dá por “engano” e que pode induzir em graves erros, ou conselhos de “amigo” que se dá para a pessoa “se dar bem” e não criar conflitos nem arranjar problemas para si. Mas não raras vezes a hostilidade é aberta, agressiva, quase demente. São autênticos actos de terrorismo psicológico que se cometem para que alguém se demita ou fique com o espírito em frangalhos.
Por incrível que pareça, são muitas vezes os indivíduos com esta mentalidade competitiva orientada para a destruição os mais críticos sobre este estado de coisas. Não haverá certamente uma motivação única para tal. Poderá ser apenas uma questão de maldade pura, de quem usa qualquer estratagema para sacudir a água do capote. E o que fazem se os confrontarem, com evidente contradição entre o que dizem e o que fazem? Simples, entram no relativismo absoluto. Esta maravilhosa forma de pensar, que nada deve aos factos, consegue não só desculpar-se de qualquer acção ignóbil como “provar” que são acções justas e correctas, que só pecam por serem tão brandas. A ameaça velada de poderem fazer ainda muito pior é mais um elemento de chantagem eficiente. Pior ainda é quando o indivíduo fala com sinceridade e atingiu um tal ponto de alienação que nem percebe que faz parte do problema e não da solução.
No próximo post será abordada a questão da generosidade e da solidariedade.
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