quarta-feira, setembro 20, 2006

O poder da imagem


Tornou-se um lugar comum dizer que se prefere o livro ao filme. Alguns ainda pensam que fazer afirmações destas em público confere-lhe uma aura de requinte intelectual, nem que seja por as pessoas que o ouvem não terem lido livro algum nos últimos seis meses. Mas pensemos em excepções, pegando no post anterior, em Star Wars. Há uma concepção de raiz pensada para o grande ecrã e a imagem ajuda a salientar alguns símbolos que se passam a confundir com a mesma, a máscara de Darth Vader, os sabres de luz ou a figura de Yoda. A comunicação é mais directa além da acção estar adequada ao tempo de duração dos filmes, ao contrário de muitas adaptações de livros em que se anda aos solavancos.

Pensemos, por outro lado, na triologia de O Senhor dos Anéis. Nem mesmo a extensa duração dos filmes e o esforço em tentar recriar o universo de Tolkien conseguem fazer passar o sentido geral da obra do mesmo. Por um lado há o problema presente em todas as adaptações, o de ter de cortar partes do livro ou reduzi-las bastante. Assim, páginas seguidas que descrevem uma situação de agonia e desespero crescente, no filme transformam-se em apenas alguns segundos sem qualquer poder dramático.

Mas em relação à presente obra há ainda outra questão que me parece essencial. Quem não conhece a obra de Tolkien vê a triologia de O Senhor dos Anéis naturalmente baseado no seu próprio universo, onde vão albergando as várias personagens que vão aparecendo. Acontece que todo o universo de Tolkien é criado de raiz e há muitos aspectos que parecem óbvios mas não são o que parecem. Por exemplo, a maior parte das pessoas vaie-se identificar, inconscientemente com os Homens, quando na realidade os Homens que Tolkien descreve não têm muito a ver com os actuais pois eram bastante mais fortes e viviam muito mais tempo. As pessoas deviam sim identificar-se com os hobbits. A narrativa cinematográfica não consegue transmitir da mesma forma a mensagem sobre a corrupção que o poder provoca. Passa a ser apenas mais uma estória de confronto entre o bem e o mal apenas um pouco mais fantasiada.