terça-feira, março 13, 2007

Indícios do suicídio civilizacional (VII)

Ainda antes de avaliar as falsas religiões alternativas, indiciadas no último post, faltam ver duas coisas. Falta abordar o papel edificador das religiões autênticas que, tenho de confessar, não posso assegurar sobre ele conseguir discernir de forma minimamente conveniente nos próximos tempos. Mas, ainda antes, resta também analisar em maior detalhe algumas consequências do declínio espiritual.

O declínio espiritual não provoca necessariamente um declínio geral. Pode até gerar um crescimento económico e uma fermentação social espantosas durante um determinado período de tempo. A razão é simples, confere maior liberdade. O declínio espiritual é sobretudo uma erosão da autoridade, que é sentida como liberdade. A liberdade que aqui se fala é a sensação de não haver limites para nada, no fundo a ideologia do terrorista. Ou seja, a sucessão de espasmos emocionais que ilude o indivíduo de estar cada vez mais perto da intocabilidade. O novo mundo que assim nasce baseia-se num crescente conferir de direitos que se baseiam numa lógica de não neutralidade. O paradigma é rejeitar o passado, a tradição, as instituições mais antigas e abraçar qualquer causa “moderna”. Ou seja, não é a liberdade de escolha mas a liberdade de censura sobre o passado.

A própria autoridade em si é mais complexa do que pode parecer à primeira vista. Alguns querem fazer crer que a erosão da autoridade é benéfica porque não é mais que um erradicar de um autoritarismo opressor. Acontece que é precisamente o contrário. O que está em causa é a própria liberdade de acreditar. Hoje em dia um crente dificilmente se pode manifestar em público. As suas crenças passam a ser como a sua sexualidade, ambas devem estar fora dos olhos da multidão. Mas aqueles que se regozijam de nos ter livrado desse terrível mal, segundo eles, que é a fé, apresentam por sua vez um cardápio de outras crenças disfarçadas de consensos científicos, políticos, médicos, etc. Estes novos evangelizadores não perdem muito tempo a tentar convencer-nos das suas “verdades”, são mais directos. Quando têm poder para isso simplesmente tentam proibir quem se atreve a levantar dúvidas. Por enquanto ainda utilizam como principal arma contra os cépticos o extermínio de carácter.

Este movimento rumo ao totalitarismo, que acontece dia após dia frente aos nossos olhos, só é possível porque uma das componentes da autoridade já deixou de fazer qualquer sentido para a maior parte das pessoas: o respeito pela verdade. Será o tema do próximo post.

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