O Natal (2)
O post anterior sobre o Natal foi demasiado sério e olvidou algo de fundamental nesta época: As crianças. Porque grande parte das movimentações à volta desta época são em muito a elas destinadas, como a árvore de natal, as prendas, festas com montes de doces e, acima de tudo, o Pai Natal.
Considero a actual utilização do Pai Natal como o maior atestado de imbecilidade que se passa às crianças, e não é por a figura ter sido vestida pela Coca Cola. Também não é pelo conceito em si, que pela sua aura mística terá alguma piada. Alguns pais, que deixaram de acreditar em que quer que seja, querem que os seus filhos acreditem ao menos por uns tempos no Pai Natal. Mas a forma como se quer que as crianças engulam a estória deixa-me perplexo. Por um lado, tenta-se manter o mito e não deixar que as crianças percam a ilusão. Mas ao mesmo tempo dão-se mil e uma pistas que mostram claramente que é tudo mentira, porque se parte do princípio que as crianças são demasiado estúpidas para perceber.
Recentemente estive numa festa de Natal para crianças da escola primária, que terminava com a entrega de presentes por 2 Pai Natal. Várias vezes a apresentadora perguntava se eles queriam que o Pai Natal viesse entregar os presentes, e eles entusiasticamente gritavam “sim” em coro. Mas quererá isto dizer que aquelas crianças acreditavam que o Pai Natal em pessoa estaria mesmo ali? O que eles sabiam é que estaria alguém vestido de vermelho e de barbas brancas a distribuir os presentes que os pais deles e dos outros tinham comprado. Bastante mais impressionante foi quando a apresentadora, num momento morto, perguntou se eles sabiam cantar alguma canção, e sugeriu “As meninas da ribeira do Sado”. Imediatamente, aquelas centenas de criança começaram a cantar a canção que tão bem conhecem, com as suas vozes agudas, com um entusiasmo incomparavelmente superior ao mostrado pelo suposto Pai Natal.
Porque será que a maior parte dos adultos acha que as crianças são incapazes de ter raciocínios lógicos e tirar as suas conclusões? Aposto que muitos fingem acreditar no Pai Natal por recearem que, se não fizerem, não ganharão prendas. E as muito pobres certamente não terão espaço nas suas vidas para estas ilusões. Talvez os adultos pensem assim porque eles próprios são incapazes de verdadeiros raciocínios, limitando-se a reagir de forma pré-programada ao que se lhe depara.
Lembro-me de nunca ter acreditado a sério no Pai Natal. Queria que fosse verdade, era uma ideia espantosa e estimulante, mas por mais que pensasse não conseguia ver como era possível uma pessoa distribuir prendas para todas as crianças do mundo numa só noite. E depois, onde levaria ela aquelas prendas todas, se tinha apenas umas renas e uma saco pequeno? As crianças pensam e continuarão a fazê-lo se forem encorajadas. Mas se forem tratadas como mentecaptas, com uma total ausência de capacidades, que futuro lhes estamos a proporcionar? Mais um post sério…
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