quinta-feira, dezembro 18, 2003

O que se passa com os portugueses?


Ando seriamente preocupado com a saúde mental e emocional dos portugueses. Entre muitas coisas, chama-me a atenção de forma premente a forma como se conduz, cada vez mais desastrada e perigosa. O que me deixa realmente estupefacto é a ânsia em se colar ao automóvel da frente, que acontece cada vez mais.

Umas semanas atrás conduzia em Espanha, e pude constatar que os nossos vizinhos são bastante mais civilizados ao volante (não foi em Madrid). Por uma única vez, um cabrão de um espanhol colou-se a uns 2 metros atrás de mim. Achei aquela atitude de extrema rudeza e agressividade. Mas olhando para a matrícula reparei que era portuguesa… Há menos dias passava pelo IC 19 (felizmente não o utilizo diariamente), e à minha frente, na faixa ao lado, seguiam 4 automóveis juntinhos e a alta velocidade, parecendo um bando de lunáticos em competição. Será que eles acham que chegam mais depressa ao seu destino assim?

Esta forma de conduzir deixa-me perplexo. Não posso crer que o fazem por ignorância, pois saberão que se algo acontecer é acidente grave na certa. Serão carências afectivas que os levam a procurar a proximidade de outros? Serão tendências suicidas/homicidas? Será um jogo de crime e castigo, relembrando disparates feitos quando eram crianças, severamente punidos pelos pais e que agora, estranhamente, sentem saudades (falta das palmadas dos pais)? Não sei.

Ao mesmo tempo, vejo a construção de novos edifícios na margem sul do IC19 (próximo do hospital Amadora-Sintra), até então uma zona despida de betão. Num país onde já existem habitações para cerca de 30 milhões de pessoas, está-se a ver a relevância da coisa. Até é fácil de perceber, para quem passa horas nas filas do IC 19, certamente ver novas construções mais próximas de Lisboa dará algum alento. É uma fuga para a frente.

Mais à frente ainda, quase a entrar na 2ª circular, um aglomerado de prédios a fugir de vista, e também de uma feiosidade extrema. Diariamente, filas intermináveis. Nos fins de semana, essas mesmas pessoas que supostamente estariam fartas de bichas, metem-se em outras nos centros comerciais, auto-estradas, acessos a praias. Parece que já não conseguem viver sem estarem em fila, como se fossem peças de matéria na linha de montagem.

Não era minha intenção estar sempre com posts negativos e críticos. Mas o que vejo não me deixa indiferente. Os portugueses comportam-se cada vez mais de forma infantil e disparatada. Sente-se no ar a ansiedade pela recuperação económica, mas apenas para que possam voltar a endividar-se em compras supérfluas e sem utilidade, como se isso conseguisse colmatar as debilidades emocionais. Por outro lado, os portugueses falam mal de tudo, e cada vez com menos humor, mas são incapazes de criticar seriamente o que quer que seja. Em especial, a auto-crítica pura e simplesmente não existe – não sabemos o que somos. Numa recente sondagem, mais de 90% dos inquiridos acharam que os portugueses conduziam mal. No entanto, quase todos se afirmavam bons condutores…

É pouco animador saber que o país não tem qualquer rumo e, pior que isso, não quer ter um. Estamos viciados numa depressão politicamente correcta, que ninguém quer admitir. A letra do hino terá que ser mudada porque é muita hipocrisia ainda cantarmos a “Nação Valente”.