quarta-feira, janeiro 14, 2004

Como vai a sua intimidade?


Os blogs masculinos são, em geral, um mundo de comunicação fria e algo distante. Os bloggers masculinos falam de coisas sérias, ou pelo menos de forma séria. As excepções são os blogs de humor (ver links), mas mesmos estes são feitos com seriedade. Já os blogs femininos são diferentes e, para mim, são sempre imprevisíveis. As nossas bloggers, aparentemente, despem a sua alma nos posts com muito mais facilidade. Aonde eu queria chegar é que os blogs femininos têm mais intimidade, ou assim parece.

Mas talvez haja diferentes percepções sobre o que se entende por intimidade. Para alguns, a intimidade implica um partilhar de algo. Assim, a intimidade só existiria através de outra pessoa, o amigo íntimo, o amante, o familiar. Mas para outros, tal intimidade, por si só, é apenas uma ilusão. Afirmam que a intimidade começa no próprio indivíduo e aí se desenvolve e cresce, se for efectuado um esforço nesse sentido. Só depois de uma certa maturação da intimidade consigo próprio, fruto de uma profunda introspecção, poderá a alguém realmente comunicar com outras pessoas e a partilhar intimidade com elas. Isto seria válido para todos os domínios da acção humana.

Mas o que acontece, de facto? O nosso modelo de vida actual, fortemente catalisado pela televisão, cinema, livros e revistas, incute a necessidade de procurar a intimidade exclusivamente virada para o exterior. Entretanto, as pessoas vivem desconhecendo aquilo que são e aquilo que fazem em cada momento. Não se apercebem da postura torta, dos gestos toscos, do olhar sem rumo. Nem se apercebem do mal estar físico, de dores nas costas, mãos, cabeça, habituando-se a achá-las normais por desconhecerem o que é o bem estar. Tal como não se apercebem das faltas da atenção, dos pensamentos caóticos, dos prenúncios de variação de humor. Espantam-se por as suas disposições alterarem-se com o clima, e dão por si em estados apáticos ou com excitação sem controlo.

Todas estas coisas fazem parte da natureza humana e talvez não tenha interesse eliminá-las, porque nos ajudam em muitas coisas e são oportunidades de fortalecer o carácter. Mas a falta de intimidade interior faz com que não se dê importância a nada disto, achando que tudo se resolve com ajuda exterior (medicamentos, bens materiais, estatuto social, amor...). Sendo assim, nada fazem para se ajudar a si mesmos. Alguns param para pensar no que estão a fazer às suas vidas. Talvez descubram o interesse para desenvolver a sua auto-intimidade. Aos poucos descobrem que este virar para si mesmo, efectuado de forma correcta, acaba também por ser uma abertura para os outros. É a verdadeira intimidade.