domingo, fevereiro 01, 2004

Conhecer o nosso mundo – Toda a verdade


Nem todos os que procuram estar informados sobre as coisas do mundo, saber a história dos povos e das suas personagens, o fazem numa “ânsia mental masturbativa”, por forma a brilharem como comentadores de jornais, TVs, rádios, blogs ou apenas junto à sua tertúlia de amigos. Alguns, talvez poucos, entram nesta procura porque desejam conhecer com sinceridade o que os rodeia, explicar as tendências e as grandes questões da humanidade, acabando por se conhecer melhor a si mesmos. Procuram ainda, com a experiência do passado, conhecer o futuro provável e dar o seu contributo para que ele seja o melhor possível.

Mas esta nobre missão esbarra logo de início em dificuldades que parecem incontornáveis. Porque, como é possível ter conhecimento sobre um assunto a respeito do qual os factos estão vedados? Digo isto porque, sobre muitas matérias relevantes, o que é tido como “oficial” não passa de uma versão completamente falsa, mesmo quando há provas que não é assim, apenas porque somos receptivos a qualquer versão que nos reconforta. Ou então, existem tantas versões contraditórias (mesmo em publicações sérias), que se torna quase impossível saber qual a verdadeira ou qual se aproxima mais da realidade.

É muito difícil de saber Toda a Verdade em matérias como:

- As intenções e funcionamento da Administração Bush;

- O 25 de Abril e as suas reais motivações, tal como o que suportou de facto o salazarismo;

- Guerra do Vietnam;

- A actuação dos serviços secretos e de informação de vários países, em especial a NSA;

- O ataque japonês a Pearl Harbour;

- Colaboracionismo com o nazismo da sociedade francesa, elites britânicas, igreja católica, pacifistas americanos, etc.;

- A implantação da República em Portugal;

- Guerra-fria;

- Tratamentos dos índios por parte de portugueses e espanhóis, em comparação com o que fizeram ingleses e franceses;

- Anti-judaismo, anti-semitismo, anti-sionismo;

- Domínio espanhol em Portugal;

- Marxismo e sua implantação como forma de poder e contra-poder;

- A origem do cristianismo, como movimento, para além de Cristo;


Esta lista poderia continuar indefinidamente, mas vou-me centrar apenas no 1º item. Isto tem uma razão, porque o único post que escrevi e censurei, acabando por não o colocar no blog, tinha precisamente a ver com o presidente Bush. O post comentava o livro “Bush em Guerra”, de Bob Woodward. Decidi comprar este livro por ter sabido que o autor era um jornalista que tinha dedicado parte da sua vida a destruir a vida de presidentes republicanos (começando pela divulgação do escândalo Watergate), e sendo um livro factual, seria imparcial neste estranho contexto onde vivemos.

Não coloquei o post porque este livro me surpreendeu imenso. Na verdade, o livro poderia se intitular “Ode a Bush”, uma vez que é quase do princípio ao fim um enorme elogio a Bush. Mas um elogio sem palavras de elogio, apenas pela descrição factual dos acontecimentos. Aquilo era “bom” demais para ser verdade, e por isso não teve a minha humilde referência.

Mas fazendo um pouco de futurologia do passado… Ainda George. W. Bush não tinha sido eleito como presidente dos EUA e já despertava ódios pelo mundo inteiro. É curioso ver que, actualmente, muitas democracias despertam ódios ao passo que algumas ditaduras causam paixões. Com várias decisões de força que a Administração Bush tomou, em especial depois do 11 de Setembro, os ânimos animaram-se e acerbaram-se, provocando um reunir fileiras em dois campos opostos. Fora dos EUA, o campo predominante acha que toda e qualquer decisão da administração Bush é na sua essência maléfica, visa o reforçar do imperialismo americano, trará um grande mal ao mundo e será durante décadas recordada como tão execrável como as acções nazis. O outro campo, com bastante menos adeptos, mas ainda assim muito vigoroso, acha que as decisões da Administração Bush são todas corajosas, de uma visão que s está ao alcance de poucos e que serão marcos de viragem na história da humanidade.

Para saber A Verdade sobre este assunto seriam necessários anos de pesquisa, indo de preferência a fontes factuais e não de opinião, cruzar dados e todo o habitual processo que se usa quando se quer saber de algo a fundo. Ainda pensei em fazer isso, porque de facto adorava saber a verdade, mas o meu precioso tempo não pode ser desperdiçado nestas questões. Além disso, a minha arrogância diz-me que já sei quais seriam as conclusões finais. As dúvidas seriam mais que nunca. Iria descobrir que não havia decisões puramente boas ou puramente más, tendo todas vantagens e desvantagens. É algo que todos deviam saber. As motivações para cada decisão seriam várias, algumas por convicção, por pressões várias, por ingenuidade, por razões técnicas, por ideologia, por consenso, por debate…

Para os que ainda não perceberam, são apenas pessoas, não anjos ou demónios. As questões de poder têm estranhas ressonâncias em nós e fazem-nos analisar tudo apenas pelo optar entre o preto e o branco. Um mestre zen diria que não existe preto nem branco, nem não-preto nem não-branco. Às vezes percebo o que isto quer dizer.

Domingo é o dia que reservo para os posts pesados. Este é um post que hesitei pôr devido ao sistema de comentários… Acho que percebem porquê.