sexta-feira, janeiro 16, 2004

Woodstock e os festivais de música


Woodstock é um nome mítico ainda para muitas pessoas, boa parte delas ainda não nascida na altura da realização do famoso festival de música. Local de liberdade, novas harmonias, paz, utopias … Frank Zappa, de inspiração anarquista, um dos músicos mais brilhantes do século XX e também uma das mais ferozes vozes anti-sistema, disse que Woodstock não passava de um pretexto para um bando de jovens irresponsáveis consumirem drogas e passarem uns dias fora de casa sem os pais os chatearem. Achava que aquilo não iria contribuir em nada para a resolução dos problemas do mundo. O certo é que os hippies de outrora transformaram-se nos yuppies de agora.

Em Portugal também tivemos o nosso Woodstock, em Vilar de Mouros, há muitos anos atrás. Acredito que as pessoas que estiveram à frente do evento tenham realmente tentado fazer algo especial, com a participação de estilos musicais muito diferente, num espírito aberto do género “Não gostamos uns dos outros mas por uns dias vamos fingir que isso não interessa.”

De há uns anos para cá a ideia dos festivais de Verão voltou a ganhar ânimo. Mas agora o pragmatismo impera e nada daquelas esquisitices de variar muito nos estilos de música, porque isso só atrapalha na finalidade desejada. Os festivais passaram a ser um ritual de iniciação e de um reviver dessa iniciação ano após ano. Trata-se de uma iniciação às “coisas boas da vida”, como o álcool, drogas, sexo desajeitado e, em alguns casos, a um tipo de marginalidade filosófica. Muitos adolescentes, a partir dos 12, 13 anos, vêem nestes festivais de “música” a ocasião de perderem a virgindade, fumar umas “ganzas” e fazer todo o tipo de disparates sem ninguém os criticar.

Na verdade, trata-se de um ritual de iniciação à imbecilidade. Daqui para frente o iniciado só tem dois caminhos possíveis. Ou se afunda cada vez mais, tornando-se alcoólico, passador de droga, chulo/prostituta e em alguns casos apresentador de televisão. Ou então, continua a estudar, arranja um bom emprego em que faz todos os dias a mesma coisa, casa com alguém tão enfadonho como ele, torna-se bom pai/mãe de família, severo e que não pode ouvir um palavrão, e que a maior ambição na vida é viajar um dia num cruzeiro de luxo ou aparecer numa revista social. Não sei qual das opções é a pior, por isso faço um apelo aos jovens deste país para que ponderem seriamente a vossa ida ao próximo festival de música. Mais vale continuar a ser virgem por uns tempos do que acabar num destes estados deploráveis.