terça-feira, abril 20, 2004

Olhares


Avenida da Liberdade em Lisboa. Ando a pé e de carro, mas não conduzo. Reparo nas arquitecturas, umas decadentes, outras em recuperação, outras novas. Não há brilho mas ainda algum esplendor resta. Não um esplendor de um Estado Novo, que de novo nada tinha, mas de um acumular de séculos e de fluxos exteriores que ali deixaram a sua marca. Num repente, tudo apresenta-se estranho, exótico. Pareço estar algures num local distante e misterioso. Mas abandonado pelos seus construtores e suavemente invadido por migrantes procurando algo.

Carros de luxo passam por mim, cheios de arrogâncias no seu interior que, no entanto, parece vazio. Alguns dementes, alheios na sua realidade, chamam minha atenção. Impressionam-me e fascinam-me. Naquela overdose de automóveis, a loucura parece ser a solução natural. As passadas traçam linhas erráticas, frementes e desesperadas. Não têm um destino, nem um propósito. E nem têm de ter.