quinta-feira, março 10, 2005

Um mundo em mudança (1)


HÁ EVIDÊNCIAS?

Naquele fim de dia, ia a caminho de casa no automóvel. Havia pouca gente na rua e dali a alguns minutos começaria o jogo FCP – Benfica. Fiquei surpreendido quando vi algumas dezenas de pessoas junto a uma bomba de abastecimento. A minha primeira reacção foi pensar que tinha acontecido algum acidente mas, num repente, dei-me conta que era uma bomba da BP e as pessoas que ali estavam faziam já fila para adquirir bilhetes para o concerto dos U2. Os bilhetes só estariam à venda 14 horas mais tarde, e os ditos fãs teriam de aguentar aquela que foi considerada a noite mais fria do ano. Passei no dia seguinte pelo mesmo local, apenas umas horas antes da “abertura das bilheteiras”. Agora eram centenas de pessoas, e o trânsito estava congestionado, talvez por os automobilistas reduzirem o passo para apreciarem o aparato.

Tais fenómenos poderão não voltar a acontecer. O fenómeno a que me refiro é o das “grandes bandas”, sendo os U2 talvez o último grupo que poderá ter esse estatuto. Para alcançar tal patamar será necessário reunir uma série de características, que passam pelos méritos musicais, uma coerência evolutiva, saber interpretar o evoluir dos tempos, uma boa rede de promoção e mais uma série de factores que ninguém controlará e ninguém sabe como funcionam e que nós chamamos muitas vezes, talvez erradamente, de sorte.

O meu palpite é que o fenómeno das “grandes bandas” não se poderá repetir porque as editoras deixaram de ter o poder que tinham antigamente. É certo que eram apenas uma peça na engrenagem, mas suponho ter sido essencial. Recordemos que as grandes editoras escolhiam aquilo que as pessoas iriam ouvir, não tendo estas grandes escolhas. Quem quisesse ouvir coisas mais alternativas teria que estar ou deslocar-se às grandes cidades, a determinados estabelecimentos, para ter uma maior variedade de escolha. Com a disseminação da utilização da internet, tudo isto ganhou uma tendência de sentido totalmente contrário.

Com a internet, aos poucos, as pessoas deixam de ser receptores passivos, que engoliam tudo o que as grandes editoras lhes querem vender, por forma a satisfazer anseios de confortação emocional ou de fazer parte de um determinada tribo. A internet, nestas matérias, leva a uma atitude mais activa. As possibilidades de escolha multiplicam-se, as trocas entre amigos/conhecidos e os downloads sucedem-se de forma que ninguém pode controlar. Posso sintetizar que o efeito da internet foi dar maior liberdade. E quando se ganha essa liberdade, torna-se virtualmente impossível as editoras conseguirem fazer as suas imposições como no passado.

Inicio aqui uma série de posts que dizem respeito a mudanças que vão ocorrendo e que podem ocorrer nos próximos. São apenas um exercício sobre a minha curiosidade por aquilo que o mundo tem de mais seguro, que é a própria mudança.

(Cont.)