segunda-feira, março 07, 2005

A vida intelectual dos macacos - 7


Tinha ficado anteriormente nas tais práticas (yoga, meditações, artes marciais, etc.) que faziam bem, ou não. Tinha dado a entender que a verdade encobria algo sombrio, terrível... Começo por tentar fazer uma distinção. Há pessoas que aderem a estas práticas porque acham que lhes fazem bem, mas também porque sentem que as podem libertar. Penso que são dois objectivos que se podem contradizer.

Uma prática que se diz libertadora não pode levar necessariamente do ponto A ao ponto B. Considerando que o ponto A é a Escuridão (comodismo, má forma física, medo, insegurança, apatia...) e o ponto B a Luz (iniciativa, dinamismo, segurança, energia...). Contudo, se a prática dá liberdade à pessoa não existe qualquer caminho que a leve a um ponto B luminoso, há apenas um caminhar que a pessoa leva, a cada momento, por onde bem quer ou se deixa levar.

Mas dissecando agora mais fino. Algumas destas práticas são competitivas. Acreditando eu na competição em termos económico, em termos interiores parece-me problemática. A prática passa a ser toda orientada para as vitórias, ajustar às regras, aos truques, perder peso, estéticas vazias. Cometem-se excessos físicos, que podem provocar lesões graves e envelhecimento precoce. A ansiedade reina, criam-se grunhos que se acham heróis por terem uma medalha qualquer ou por acharem que conseguem bater em toda a gente.

As práticas não competitivas e aparentemente mais espirituais também acarretam os seus riscos. A ignorância pode levar certas pessoas seguirem falsos mestres (a sua maioria) e levar a um caminho que pouco se distingue da loucura.

Em geral, isto são excepções e encontra-se de tudo um pouco. A única coisa que ressalvo é que uma prática que “faz bem” é uma ilusão. Conheço casos de pessoas que, através destas práticas, fizeram-se de si mesmas e de forma consciente, piores pessoas. Tornaram-se mais estúpidas, arrogantes, cruéis. De certa forma, utilizaram certas filosofias libertadoras para se livrarem de sentimentos de culpa, e poderem ser uns sacanas sem complexos.