Dois mundos irreais
Será toda a existência o sonho de um génio louco? É a sensação que fico ao ver os media tradicionais, especialmente a televisão, depois de passar semanas sem lhe prestar qualquer atenção. A minha fonte de informação são os blogs quase em exclusividade. Por isso ganhei maus hábitos, diria mesmo hábitos anti-sociais. Habituei-me, por exemplo, a que cada decisão política e económica fosse questionada nos seus méritos e deméritos. Pior que isso, que o ponto de vista liberal fosse tido em consideração. E quais as consequências? A política e a economia deixaram de ser questões religiosas, deixei de ter pudor em questionar as crenças dominantes. Obviamente que para manter os amigos e não ser apedrejado na rua tenho de esconder esta terrível verdade de todos.
Mas confesso que, por vezes ,fico receoso de entrar num estado de contradição interna que me pode levar a algum estado de demência irrecuperável. As contradições entre o mundo dos blogs e o mundo dos media tradicionais são tantas que fico indeciso sobre em qual acreditar. Por exemplo, nas televisões Mário Soares é uma pessoa credível, que não diz barbaridades, que não se baralha todo, uma senador impoluto. Nos blogs (alguns) Soares é quezilento, arrogante, confuso, quase demente. Em que versão acreditar?
Ou então Louçã, que na TV é sempre eloquente, bem pensante, moderno, justo, equilibrado, mas nos blogs (alguns) não passa de um hipócrita, mentiroso compulsivo, demagogo, irresponsável. Ou sobre a Europa, que na TV é o continente mais avançado do mundo, moralmente superior, mais justo que os EUA, ameaçado pelos malvados chineses e Indianos, enquanto nos blogs (alguns) a Europa é um continente velho, esclerosado, que não soube adaptar-se aos tempos, que esconde a sua cobardia atrás de grandes valores morais (que não cumpre), que mostra egoísmo com estúpidas medidas proteccionistas, etc.
A lista poderia continuar, mas para bem da minha sanidade mental é melhor parar. Até há uns anos atrás pensava que só existia um universo (ou mesmo existindo vários, só poderíamos ter acesso a um), e nesse sistema a verdade não era relativa, dela emanando uma lógica baseada em factos e que permitia raciocínios sem falhas desde que não se entrasse em contradição com as leis elementares. A realidade era portanto, não-dual. Tudo isto agora foi posto em causa, não sei se a minha alma poderá voltar a ter sossego nesta ambiguidade sem solução à vista.
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