quinta-feira, setembro 29, 2005

No reino do Leão

Liedson não joga hoje porque não gostou de ser substituído. Será que Peseiro, para ser coerente, vai exigir que o jogo seja à porta fechada?


(ver mais)

segunda-feira, setembro 26, 2005

Música e morte

Faz hoje 60 anos desde a morte do compositor húngaro Béla Bartók É um dos pouco compositres eruditos do século XX que, sem negar a modernidade, consegue ser apreciado por um público amplo. A utilização de elementos folclóricos, que pesquizou intensamente, conferem à sua música um carácter próprio, notado nos ritmos e melodias. Os compositores do século XX foram-se afastando do que era audível para o comum dos mortais. Cada vez mais radicais, esploraram todos os aspectos possíveis do som e a música parecia não ter barreiras. O resultado é que, mesmo entre públicos cultos frequentadores assíduos de concertos, a audição de música contemporânea é quase nula. Tal ocorreu também com outras artes, como a pintura e ainda não está completamente feita a destrinça entre o que é lixo e aquilo que simplesmente está “acima” dos ouvintes.
Por seu lado, a música popular tornou-se cada vez mais fácil de ouvir. Esquemas cada vez mais simplificados ao ponto de se tornarem insuportáveis. Não era apenas mais um formato disponível. Gerações foram reeducadas nos seus gostos musicais e, mais geralmente, na forma de ouvir. A complexidade foi afastada, o belo só era reconhecido se fosse também óbvio. Criou-se uma cultura dominante, politicamente correcta, que pensou ter o direito de dizer aos outros o que está certo ou errado. É curioso ser a mediocridade a achar estar no patamar superior.

(ver mais)

quarta-feira, setembro 21, 2005

Reality choque

A intelectualidade bem pensante choca-se com os “reality shows”. Eu não. Imagino que isso me exclua logo à partida das elites que têm algo de importante para dizer ao país. Os meus receios em relação a este tipo de programa, de poderem iniciar uma nova era de mediocridade e rebaixamento mediático do ser humano, foram desfeitos em poucos minutos quando vi pela primeira vez o Big Brother 1 nacional. Imediatamente apercebi-me que era apenas mais um programa familiar, na linha Júlio Isidro, mas com um formato que induzia logo uma data de questões e sentimentos fortes.

A grande aceitação popular destes formatos abriu espaço para a intelectualidade definir-se à parte, mostrando repúdio e argumentos morais tidos como válidos. O paternalismo típico dos que se acham superiores aos restantes cegou-lhes a sua já parca capacidade de observação do real, ao não perceberem que nada de fundamental tinha nascido. A estes críticos passava-lhes ao lado a inenarrável ficção nacional e, pior ainda, a fraquíssima qualidade da informação, pela sua falta de rigor e militância propagandística. Estas sim são o grau zero da televisão em Portugal, não uns “reality shows” ingénuos.

Actualmente os “reality shows” viraram-se para o formato gay. É certo que o Carmo e a Trindade têm caído tantas vezes que cada vez o estrondo é menor. É curioso que muitos daqueles que agora identificam nestes formatos o novo patamar mínimo da decência são os mesmos que se manifestavam contra a homofobia. Se pensassem um pouco perceberiam que a aceitação pública destes formatos significa apenas que o preconceito homossexual se reduziu bastante e deveriam considerar isso positivo.


(ver mais)

segunda-feira, setembro 12, 2005

A opção

Sempre me intrigaram as razões de tantas pessoas darem relevância a ideias erradas. Falo daquelas ideias que, sem grande esforço, podem-se mostrar que são falsas. Em alguns casos é fácil explicar esta opção pelo erro, quando as ideias são veiculadas por intensa propaganda ideológica ou religiosa (a diferença é pouca). As pessoas crescem com estas ideias, as quais, como a paisagem, não se discutem. Ou então, são ideias que se inculcam num determinado momento crítico, sob forte coerção a que poucos resistem para não serem marginalizados.

Contudo, mesmo quem vive em maior liberdade prefere tantas vezes o caminho fácil das ideias úteis mas falsas. Hoje em dia continuam a existir pressões e quem quer integrar determinado grupo, por prestígio, para fugir à solidão, porque é excitante, tem muitas vezes que abdicar de parte da verdade, para poder inculcar novos valores. Muitas pessoas desdobram-se em duas, com personalidades completamente distintas dentro e fora do grupo (pensemos em certos adeptos de futebol ou em grupos ideológicos).

Mais assustador é perceber que muitos escolhem o caminho das ideias falsas e nem se percebe bem porquê. Não são apenas indivíduos de fraco intelecto ou marcados por algum acontecimento. São pessoas comuns, as mais comuns, ao que parece. Têm um fascínio inexplicável por tudo o que seja absurdo, desde teorias da conspiração a esoterismos parvos. Acham que a verdade está escondida das massas e apenas eles, que tiveram a sorte de descobrir um determinado guru, se podem juntar ao grupo dos eleitos que sabem explicar o mundo, a vida e a morte.
Se bem que cada um tenha toda a liberdade de ser um idiota, criam-se conflitos quando essa idiotice quer-se impor aos restantes. Não vale a pena tentar argumentar com estas pessoas. Podem reagir de forma trágica, como se lhes estivessemos a roubar algo importante, tentando-nos fazer sentir culpados pelos nossos pecados. Ou então reagem com uma ironia, típica de quem é “superior”. Por meias palavras dão-nos a entender que somos uns mediocres, por utilizarmos essa coisa ridícula que é a lógica. Analisam as nossas motivações, porque de certo haverão algumas e serão bem tenebrosas para descermos ao ponto de raciocinar baseados nos factos e no encadeamento lógico dos pensamentos.

(ver mais)

sexta-feira, setembro 09, 2005

Uma questão de fé

Para não perdermos a fé na humanidade é preciso ir perdendo a fé em algumas pessoas.


(ver mais)

sexta-feira, setembro 02, 2005

Furacão Katrina - Tragédia e terapia

As notícias sobre a devastação provocada pelo furacão Katrina nos media nacionais são a confirmação de que o burgesso é o modelo nacional. Era previsível, sim. Vejo cada peça como um exercício de anti-americanismo, sem precisar de fazer grande esforço. É certo que a alegria não foi tanta como no 11 de Setembro (há quem tenha testemunhado a abertura de garrafas de champanhe, na altura, por professores universitários, naturalmente em universidades públicas…), e basta ver as imagens dos locais afectados para saber que não foi um dos ícones do capitalismo que foi afectado, mas sim uma região já de si pobre em relação aos padrões americanos.

Resta fingir compaixão pelos afectados, e o facto de muitos deles serem negros ajuda nesta comoção paternalista. Mas claro que tudo isto são apartes, porque o fundamental é mostrar todas as fragilidades do modelo americano (seja lá o que isso for) e naturalmente assacar as responsabilidades ao presidente idiota. É um consenso nacional, a começar pelo nosso Messias dos consensos, o presidente Sampaio, que mandou uma mensagem ao seu homólogo americano, naturalmente mostrando pesar, mas com um inevitável puxão de orelhas, como quem diz: «Vocês americanos não aprendem nada. Acham-se os maiores e agora estão aí com o rabinho entre as pernas.»

Percebo que neste momento seja de especial urgência para os nossos jornalistas e comentadores mostrar todo o mal que está a acontecer, as coisas inimagináveis que só nos países de terceiro mundo, a falta de ajuda, etc. Têm que ser rápidos, porque daqui a uns dias tudo aquilo que dizem pode já não fazer sentido. É agora a oportunidade de ridiculizarem os EUA (e como isso faz bem alma!) com a vantagem de mostrar ainda solidariedade (intelectual) pelas vítimas. Claro que ninguém comete a imprudência de supor o que teria acontecido se tivesse sido na Europa.

(ver mais)