quinta-feira, fevereiro 26, 2004

Metabloguismo de fugida


Ouvi dizer que os blogs deixaram de estar na moda e que o entusiasmo perdeu-se. Não sei se é verdade porque ultimamente tenho tido pouco tempo para deambular por “aqui”. Acho que muito blogs, e este não é excepção, têm o problema de serem cemitérios de ideias. São cemitérios porque quase ninguém vai ver os arquivos. Mas também são cemitérios porque os próprios autores mudam os rumos, esquecem projectos, abandonam iniciativas. No meio do fulgor tudo é eterno, jovem e imutável. Ao varrer as cinzas, tudo parece mudar depressa demais, com um fim triste e amargo à vista.

As redes de computadores são fantásticas ao permitirem formas de comunicação novas e criativas. Mas uma das coisas que mais me repugna em muitos utilizadores é a cobardia. É tão fácil insultar, criticar maldosamente e destruir quando ninguém nos pode atingir. Acho que muitos destes “críticos” soubessem o prazer que é construir algo, deixariam para trás as suas vidas sem sentido.



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terça-feira, fevereiro 24, 2004

Carnaval


Meti-me num curso de fotografia há uns meses atrás e a aula prática desta semana era fotografar o Carnaval. Não podendo ir ao Rio de Janeiro, tive mesmo que me ficar por paragens mais próximas. Na segunda fui a Sesimbra fotografar o desfile de palhaços. Parece que conseguiram o recorde, mais de 2400 palhaços. Mas quando se fala na maior concentração do mundo espera-se ver uma multidão a perder de vista, e o que se viu não foi assim tão impressionante. Talvez esteja a ser injusto, porque antes estive uma hora à chuva.

Vim agora do Carnaval de Setúbal, que não se realizava ao fim de 20 anos. Bem me esforcei para apanhar boas imagens, mas o que vi não me entusiasmou muito. Também agora percebo melhor que ser fotojornalista é complicado, porque não é fácil numa multidão enorme conseguir captar o essencial. A única coisa que me deu prazer fotografar foram as crianças pequenas que se divertiam mesmo. Deste ponto de vista, crescer e tornar-se adulto é perder qualidades.

P.S. Não sei se é bom sinal uma das últimas visitas a este blog ter vindo de um motor de busca procurando «como estimular a criatividade e inteligência de meninas de 5 anos».



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terça-feira, fevereiro 17, 2004

Ideias fortes, pessoas fracas


Mote

Chamais alma ao que tão frouxamente
vibra em vós? O que, como o soar dos cascavéis dos loucos,
pede aplauso e corteja dignidades
e finalmente, pobre, morre uma morte pobre
na tarde incensada de capelas góticas,
chamais a isso alma?

Quando olho a noite azul, pelo Maio nevada,
em que os mundos giram longas vias,
então me parece que trago em mim um pedaço
de eternidade no peito. Agita-se, e grita,
e quer subir e quer girar com eles...
E isso é que é alma.

Rainer Maria Rilker


Muitas vezes, chateia-me falar com pessoas com ideias fortes, que se escondem atrás da ideologia ou da religião. Incluo neste rol pessoas com grandes convicções à direita ou à esquerda, comunistas, conservadores, cristãos, crentes nos ovnis extra-terrestres, entre outros. Defendem com frequência ideias e posições completamente disparatadas, mas fazem-no com uma arrogância que lá por trás diz: «Não falo só por mim, mas pelo meu grupo. Somos milhares ou milhões, pensamos todos assim. Acreditamos a sério no que dizemos e alguns de nós deram a vida por isso. Se me contradizeres, é uma falta de respeito para muitas pessoas. Na verdade, somos tantos que as tuas míseras ideias nada valem frente às nossas.»

Utilizam a boa vontade dos que os ouvem e que respeitam convicções profundas de outros, mesmo discordando completamente delas. Aproveitam os silêncios para dominar conversas e tomam as suas ideias como sendo partilhadas por todos. Não se interessam sobre o que os outros pensam nem se o que dizem os magoa. Pelo contrário, ao pressentirem que alguém os afronta, mostram-se indignados e agressivos. Nunca têm dúvidas e se alguém não partilhar das suas ideias é por ser pouco inteligente ou mal intencionado.

Há também os que têm ideias fortes mas não as usam contra os outros. Preferem não falar sobre as suas convicções mais profundas, sentindo que isso é quase uma pornografia espiritual. Quando alguém os repudia, não reagem exaltados, chegando mesmo a questionar se não estarão eles próprios errados. Seguem o seu caminho sem pretenderem converter alguém e pouco lhes importa se são eles que têm a última palavra ou ganhou uma discussão. Talvez as suas ideias sejam mais fracas que as dos primeiros. Mas estes, sem dúvida, são pessoas mais fortes.



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segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Marxismo vs Cristianismo


O marxismo é a versão mais pagã do cristianismo.



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quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Portugal sem problemas em assumir o que não é


Há uns dias atrás chamaram a minha atenção para algumas peculiaridades nacionais. Que estranho é, ser Portugal uma das maiores potências mundiais no hóquei em patins, com vários títulos ganhos, mas não se vê ninguém nas ruas andando em patins. E os poucos que o fazem, andam em patins em linha, uma moda importada do exterior.

Portugal, país do fado. Alguns fadistas portugueses são recebidos e aclamados nas maiores salas de espectáculo do mundo. Diz-se que o fado canta a alma portuguesa, mas não se vê ninguém a cantar o fado nas ruas, e mesmo nos bairros típicos só esporadicamente. Existirá fado não existindo um cantar espontâneo do povo?

Acrescentaria ainda dois exemplos. Sobre o futebol. Com 3 jornais diários desportivos, muitas transmissões de jogos pela televisão, programas sobre futebol com comentadores dos “3 grandes”, jogadores portugueses sendo estrelas de grandes clubes estrangeiros. Mas já não se vêem miúdos jogando “à bola” nas ruas, como o fiz muitas vezes em criança.

Por outro lado, nunca nenhum português se distinguiu como piloto de F1. Mas muitos conduzem nas estradas como se estivessem num grande prémio.

Alguns espanhóis, auto-críticos, falam do problema da arrogância espanhola, de serem demasiado afirmativos, e elogiam a humildade portuguesa. Acho que são ingénuos. Se bem que a forma de ser espanhola seja muitas vezes excessiva (os espanhóis não são todos iguais, atenda-se), é incomparavelmente melhor que o estilo “Português Suave”. No fundo, o modo luso nada tem de humilde. É apenas falta de garra, de iniciativa e até de coragem. Alguns, ao verem o nosso olhar baixo e triste, acham-nos profundos. Talvez a inveja tenha algo de profundo.



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Encerrando o assunto livro-blog


Não vou insistir mais neste assunto. Por um lado, este blog não tem impacto suficiente para a divulgação da ideia. Por outro, a própria ideia em si ou a forma como a divulguei, não provocou nenhum arrebatamento. Agora vem a parte chocante: Solitário, vou avançar com o projecto.

Mas antes que me atirem pedras, deixem-me explicar. Não vou fazer uma salada russa de posts e depois ir de porta em porta pelas editoras tentando encontrar uma interessada. Simplesmente, vou reunindo o que de melhor encontrar, fazer uma organização coerente e provocatória, imprimir e fazer uma encadernação. Depois vou ler o livro-blog junto ao mar, com o som das ondas a bater. Não gosto de ler coisas em monitores de computador, por haver sempre um pouco de agitação que desgasta o espírito. Alguns posts têm tanta qualidade que merecem ser lidos de outra forma. Talvez achem que ler no computador é como ler noutro sítio qualquer, mas para mim não é, e para muitos outros também não.

É algo egoísta, só para mim e para meu prazer. A ideia era proporcionar a outros o mesmo, mas não sendo possível.... Se não podes fazer nada pelos outros, ao menos faz algo por ti.



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terça-feira, fevereiro 10, 2004

Confissões sobre os posts anteriores


OS HOLOFOTES PARA QUEM OS MERECE

Este blog tem cerca de 7 meses. Desde essa altura, o número e qualidade dos blogs muito aumentou. É bom quando nos vemos rodeados de pessoas (blogs) melhores que nós. Talvez seja mais importante ser um bom leitor do que um escritor mediano. E, por isso, não é drama nenhum terminar um blog. Cada post pode ser o último. E cada post é sempre o último.


COMUNIDADES INVISÍVEIS – O LIVRO

Não lancei nenhuma proposta formal para a realização de livro-blog. Se o fizesse, seria em privado, com um convite enviado por mail a diversos autores de blogs. Não o fiz, não por ter dúvidas sobre a viabilidade do tal livro-blog, mas por recear de não haver entusiasmo suficiente nos nossos bloggers. Por isso, lancei umas provocações sobre o assunto, para ver as reacções.

As reacções não foram muitas, até por o blog ter tido poucas visitas nos últimos tempos. As reacções não foram muito negativas, do género: «Nem pensar, não tem interesse e é pouco viável.» Mas também estiveram longe de:«Excelente ideia. Quero participar. Vamos a isso!» Não que ficasse desiludido, porque o interessante na vida é ser imprevisível e com ausência de sentido, mas com a possibilidade de lhe conferirmos um.

Depois disto, descobri outro livro sobre blogs em português. Não comprei (mau indício, para quem anda a falar em fazer um livro-blog), mas dei uma vista de olhos semi-atenta. Explicava como se criava um blog, dando depois vários exemplos de blogs conhecidos. Mas em relação ao “sumo”, pareceu-me que o copo ficou vazio. Um blog deve ser natural e sem ter em mente segundas intenções, tal como tornar-se parte de um livro. Mas basta passar por uma livraria para ver que tudo se pode tornar livro, por isso não são universos intocáveis.

São possíveis vários livros-blog. Um exemplo, seria o acompanhar de alguns blogs “políticos”, no desenrolar temporal das principais questões, cambiando entre esquerda e direita, liberais e revolucionários, com trocas e respostas. Seria limitado, apenas mostrando uma fracção da blogosfera, mas ainda assim bastante mais plural e informativo que o circo que se vê nos meios de comunicação tradicionais. Outro tipo de blog seria o beliscar aqui e ali, apenas na mais fina flor, procurando o mais sublime e intemporal, ficando um livro-blog que poderia ser intitulado “Ciência e literatura na blogosfera portuguesa”.

A mim, interessar-me-ia mais um conceito “Ponto de vista do utilizador”. Ou seja, um livro com uma selecção de posts meio anárquica, deambulando por vários blogs de vários tipos, muito diferentes uns dos outros. Uma espécie de “Relance sobre a blogosfera portuguesa”. Para resultar como livro, não podia ser algo de qualquer jeito, mas os posts teriam de ser escolhidos por forma a se manter um ritmo que impeça de cair numa monotonia. Na verdade, o que falta para levar isto para a frente é um pouco de entusiasmo.



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segunda-feira, fevereiro 09, 2004

Os holofotes para quem os merece


A blogosfera deverá ser deixada apenas aos que têm talento suficiente...



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quarta-feira, fevereiro 04, 2004

Comunidades Invisíveis – O Livro


Surpreendi-me um pouco com a edição em livro do conhecido blog O Meu Pipi. Mas, pensando um pouco, é um natural aproveitamento dos posts do blog, a dar a conhecer a um público mais vasto, que certamente apreciará uma linguagem refinada sobre assuntos de sexo puro e duro. No entanto, a primeira coisa em que pensei foi, para quem vai ler o livro e nunca leu um blog, ficará com uma ideia completamente distorcida sobre a blogosfera.

A ideia de transformar blogs em livros não é nova. Pacheco Pereira já tinha mencionado a possibilidade de fazer um livro, ou vários, com o conteúdo do seu blog (Abrupto). Mas mesmo que vários bloggers com influência mediática viessem a publicar os seus blogs em livro, não passariam de árvores isoladas que não iram dar ideia de como é a floresta.

A blogosfera é uma comunidade pequena, apesar de poder parecer por vezes que já há “demasiados” blogs. Trabalho com muitos licenciados, que vivem no mundo dos computadores, mas quase nenhum deles alguma vez leu um blog, apesar de não se coibirem de terem opiniões “mázinhas” sobre o assunto. Só vejo quatro formas da blogosfera transbordar, de forma directa, para fora de si mesma. Uma é a publicação em livro de blogs isolados, como foi feito pelo Pipi. Outra, é a realização de estudos académicos sobre os blogs – pesados, minuciosos e que quase ninguém tem paciência para ler. Outra, talvez mais digerível, é a publicação de um trabalho jornalístico sobre blogs. No entanto, um livro desse género muito provavelmente iria apenas incidir sobre blogs de figuras mais conhecidas (que podem não ser os mais interessantes, não é?), procurando picardias e os posts sobre os assuntos quentes. Resta uma quarta possibilidade, a meu ver.

A última hipótese é a organização expontânea de vários bloggers (Comunidades Invisíveis), e decidirem eles fazer o seu livro, que espelhe um pouco o que é a blogosfera. De uma amostra de, digamos, 20 blogs, escolhendo os 10 melhores posts de cada, talvez se fizesse um bom livro. Haverá candidatas e candidatos por aí?

Vi agora numa livraria que O Meu Pipi já vai em 25000 livros vendidos...




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segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Viagem


Estava algures em Andrómeda, quando numa noite olhei pelo telescópio e vi a galáxia vizinha. Lá estava a Via láctea, cósmicamente próxima, a 2 milhões de anos-luz de distância. Via o centro muito luminoso pela concentração de estrelas, um mar de radiação sem vida. Mas num dos seus braços espiralados havia um sistema estelar com segredos por desvendar.

Sem me dar conta, já estava na Via Láctea e decidi percorrer um dos seus braços. Já perto do fim, encontrei um sistema solar que me impressionou. Tudo se movia incompreensivelmente, mas tomando a estrela, o sol, como referência – no centro e imóvel – a ordem e a harmonia revelaram-se.

Entrei. Plutão recebeu-me friamente e não parei. Rapidamente deixei para trás Neptuno e Urano fascinado pelos anéis de Saturno. Mas quando lá cheguei, foi a sua lua Titã que me fez deter por uns instantes. Porque algo maior chamava por mim. Júpiter gasoso era uma atracção muito forte a que não resisti, mas já perto percebi que me iria prender para sempre e por isso fugi.

Marte apareceu, vermelho e belo, mas faltava-lhe algo. Espreitei para ver se ainda havia mais planetas. Havia mais três. Próximos do sol, Vénus e Mercúrio eram quentes demais, restava a Terra, para onde me dirigi.

Detive-me na sua órbita e admirei a sua roupagem de nuvens, cobrindo-a e descobrindo-a de forma provocante. Havia muito azul, algum dourado, castanho, verde, branco nos pólos. Resolvi aproximar-me, sem chegar a pousar. Vi florestas, rios, cidades, montanhas e vales, planícies, desertos, parei numa imensidão gelada, branca, bela e agreste, voltando para trás.

Numa cidade detive-me. Tudo se movia sem rumo aparente. Ruas sem fim, labirintos de pedra, cheguei a um jardim. Crianças brincavam, velhos falavam, os restantes passavam.

Conheci muitos deles. Chamavam-me amigo, colega, companheiro. Por vezes juntávamo-nos, comíamos, bebíamos, falávamos e riamos.

Alguém mais doce encontrei. Olhou-me nos olhos; olhei-a com outros olhos. Disse-lhe coisas ao ouvido, sorriu-me e abraçou-me. Pequei-lhe na mão e pedi para vir.

Estávamos sós. Olhei-a à distância, falei-lhe de amor. Cheguei-me mais perto, beijámos as bocas. Despimos as roupas. Beijei-lhe o corpo quente que mais quente ficou. Ficámos mais perto, mais juntos, mais indiferenciados.

Dei por mim em local agradável. Só, em silêncio e sereno. Percebi que respirava, mas que cada expiração era diferente de todas as outras e irrepetível. Senti-me mais vivo, com uma calma que não sabia existir. Assim quis permanecer, mas foi impossível. Pensamentos caóticos, desejos, medos, visões, tudo me inundou a cabeça. Percebi que precisava de os domar. Sentei-me direito, respirei calmamente. A viagem começou!



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domingo, fevereiro 01, 2004

Conhecer o nosso mundo – Toda a verdade


Nem todos os que procuram estar informados sobre as coisas do mundo, saber a história dos povos e das suas personagens, o fazem numa “ânsia mental masturbativa”, por forma a brilharem como comentadores de jornais, TVs, rádios, blogs ou apenas junto à sua tertúlia de amigos. Alguns, talvez poucos, entram nesta procura porque desejam conhecer com sinceridade o que os rodeia, explicar as tendências e as grandes questões da humanidade, acabando por se conhecer melhor a si mesmos. Procuram ainda, com a experiência do passado, conhecer o futuro provável e dar o seu contributo para que ele seja o melhor possível.

Mas esta nobre missão esbarra logo de início em dificuldades que parecem incontornáveis. Porque, como é possível ter conhecimento sobre um assunto a respeito do qual os factos estão vedados? Digo isto porque, sobre muitas matérias relevantes, o que é tido como “oficial” não passa de uma versão completamente falsa, mesmo quando há provas que não é assim, apenas porque somos receptivos a qualquer versão que nos reconforta. Ou então, existem tantas versões contraditórias (mesmo em publicações sérias), que se torna quase impossível saber qual a verdadeira ou qual se aproxima mais da realidade.

É muito difícil de saber Toda a Verdade em matérias como:

- As intenções e funcionamento da Administração Bush;

- O 25 de Abril e as suas reais motivações, tal como o que suportou de facto o salazarismo;

- Guerra do Vietnam;

- A actuação dos serviços secretos e de informação de vários países, em especial a NSA;

- O ataque japonês a Pearl Harbour;

- Colaboracionismo com o nazismo da sociedade francesa, elites britânicas, igreja católica, pacifistas americanos, etc.;

- A implantação da República em Portugal;

- Guerra-fria;

- Tratamentos dos índios por parte de portugueses e espanhóis, em comparação com o que fizeram ingleses e franceses;

- Anti-judaismo, anti-semitismo, anti-sionismo;

- Domínio espanhol em Portugal;

- Marxismo e sua implantação como forma de poder e contra-poder;

- A origem do cristianismo, como movimento, para além de Cristo;


Esta lista poderia continuar indefinidamente, mas vou-me centrar apenas no 1º item. Isto tem uma razão, porque o único post que escrevi e censurei, acabando por não o colocar no blog, tinha precisamente a ver com o presidente Bush. O post comentava o livro “Bush em Guerra”, de Bob Woodward. Decidi comprar este livro por ter sabido que o autor era um jornalista que tinha dedicado parte da sua vida a destruir a vida de presidentes republicanos (começando pela divulgação do escândalo Watergate), e sendo um livro factual, seria imparcial neste estranho contexto onde vivemos.

Não coloquei o post porque este livro me surpreendeu imenso. Na verdade, o livro poderia se intitular “Ode a Bush”, uma vez que é quase do princípio ao fim um enorme elogio a Bush. Mas um elogio sem palavras de elogio, apenas pela descrição factual dos acontecimentos. Aquilo era “bom” demais para ser verdade, e por isso não teve a minha humilde referência.

Mas fazendo um pouco de futurologia do passado… Ainda George. W. Bush não tinha sido eleito como presidente dos EUA e já despertava ódios pelo mundo inteiro. É curioso ver que, actualmente, muitas democracias despertam ódios ao passo que algumas ditaduras causam paixões. Com várias decisões de força que a Administração Bush tomou, em especial depois do 11 de Setembro, os ânimos animaram-se e acerbaram-se, provocando um reunir fileiras em dois campos opostos. Fora dos EUA, o campo predominante acha que toda e qualquer decisão da administração Bush é na sua essência maléfica, visa o reforçar do imperialismo americano, trará um grande mal ao mundo e será durante décadas recordada como tão execrável como as acções nazis. O outro campo, com bastante menos adeptos, mas ainda assim muito vigoroso, acha que as decisões da Administração Bush são todas corajosas, de uma visão que s está ao alcance de poucos e que serão marcos de viragem na história da humanidade.

Para saber A Verdade sobre este assunto seriam necessários anos de pesquisa, indo de preferência a fontes factuais e não de opinião, cruzar dados e todo o habitual processo que se usa quando se quer saber de algo a fundo. Ainda pensei em fazer isso, porque de facto adorava saber a verdade, mas o meu precioso tempo não pode ser desperdiçado nestas questões. Além disso, a minha arrogância diz-me que já sei quais seriam as conclusões finais. As dúvidas seriam mais que nunca. Iria descobrir que não havia decisões puramente boas ou puramente más, tendo todas vantagens e desvantagens. É algo que todos deviam saber. As motivações para cada decisão seriam várias, algumas por convicção, por pressões várias, por ingenuidade, por razões técnicas, por ideologia, por consenso, por debate…

Para os que ainda não perceberam, são apenas pessoas, não anjos ou demónios. As questões de poder têm estranhas ressonâncias em nós e fazem-nos analisar tudo apenas pelo optar entre o preto e o branco. Um mestre zen diria que não existe preto nem branco, nem não-preto nem não-branco. Às vezes percebo o que isto quer dizer.

Domingo é o dia que reservo para os posts pesados. Este é um post que hesitei pôr devido ao sistema de comentários… Acho que percebem porquê.



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