quinta-feira, julho 29, 2004

Aniversário

Faz hoje um ano que este blog iniciou funções.




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quarta-feira, julho 28, 2004

Vaidade

Estou particularmente envaidecido por uma das últimas visitas a este blog ter sido fruto da busca do tema “tudo sobre virgindade feminina”. É com enlevo que imagino alguém, por uns segundos, me achou versado em assunto de tal candura.



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segunda-feira, julho 26, 2004

Enganos

O homem do povo engana-se através de orientações superiores. O homem superior engana-se através das suas próprias orientações. A fonte do erro é, em última análise, a pretensão de superioridade.




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sábado, julho 24, 2004

Perder

Há muitas formas de nos perdermos,
De nos tornarmos áridos, intragáveis
De fazermos baixar a temperatura do sol
E tornar a lua menos cheia.
Formas essas que nos iludem de não enformar em nada.
Que se mascaram como passagem dos anos.






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quinta-feira, julho 22, 2004

Blogoesfera de férias?

Será impressão minha ou a blogoesfera portuguesa já respira um ambiente de férias, em que as mentes estão fixas nas toalhas de praia e no disparo de fotografias em que o objecto principal se encontra centrado?




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segunda-feira, julho 19, 2004

E isso é poesia?


Passo frente à igreja
E deixo a minha sombra sobre os degraus.
O sino toca
E, sem saber porquê, bocejo.




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quarta-feira, julho 14, 2004

A necessidade de criar


Há um conhecido provérbio sufi que sugere que, se aquilo que vamos dizer não é mais importante que o silêncio, então não o devemos dizer. O problema com os ditos de sabedoria é que também necessitam de ser vistos com alguma sabedoria, não se limitando a ser meras receitas a cumprir. Na verdade, serve de muito pouco saber de cor as palavras dos mestres. Ninguém fica mais sábio por ler um livro de Paulo Coelho (talvez fique mais confuso e iludido). Porque a sabedoria é uma prática e não um saber intelectual.

Mas porque razão quebramos tantas vezes o precioso silêncio, não lhe acrescentando nada de útil? Escrevo isto depois de ler dezenas de posts sobre a actual situação política, e nem consigo lembrar-me de uma única ideia. Duvido que as verdadeiras motivações estejam voltadas para o exterior. Apesar de sermos educadas para o sucesso exterior, para o reconhecimento público, as motivações são sobretudo internas.

Claro que em última análise tudo volta de novo ao interior. Porque quem procura o reconhecimento público quer senti-lo também de volta, com cartas, mails, abordagens na rua. Mas o acto de quebrar o silêncio ou o branco de uma página, mesmo que virtual, não é tão paciente. Quebramos esse silêncio para colmatar uma necessidade muito mais urgente e que nem chega a sair de nós muitas vezes. Essa é a necessidade de criar, que nos dá estranhas energias, que nos mobiliza frequentemente para uma tarefa sem rumo e sem objectivo.




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segunda-feira, julho 12, 2004

O que há em excesso e em falta na blogoesfera


Começo aqui a minha cruzada pela evangelização da blogoesfera. Já era tempo de termos alguém que desse concelhos de Índole moral neste mundo sem lei. Por isso, decidi elaborar uma pequena cartilha, sobre o que de há em excesso e em falta na blogoesfera. O seguimento dos mandamentos aqui enunciados é garantia de sucesso blogoespiritual.


EM EXCESSO

Política – A política é importante, não há dúvida. Pessoalmente, aprendi mais sobre política num ano a ler blogs do que no resto da minha vida. E não posso dizer que andasse desatento. Mas aqui encontram-se muitos artigos de qualidade, factos e, talvez o mais importante, visões que normalmente se encontram censuradas nos media. Contudo, a política aparece em excesso. Alguns bloggers vêm em todo e qualquer assunto um pretexto para falar de ideologia, para atacar adversários políticos. Isso conduz também uma dramatização excessiva, em que se apregoa uma catástrofe eminente a cada espirro. Será muito curioso ver, daqui a algum tempo, já com alguma frieza, as opiniões expressas em tantos blogs confrontadas com os factos. Ninguém vai aprender nada com isso, mas mais ser divertido.

Poesia – Se há blogs que vêm política em tudo, outros apenas vêm poesia. Na verdade, é espantoso ver a quantidade de poesia que “anda” em blogs comparada com as vendas baixíssimas de livros do género. Confesso que a poesia só me toca se tiver algo de universal e visceral. Se for algo muito pessoal, ligado a uma tristeza mole e sem dela querer sair, não me diz nada. Claro que a liberdade de cada um escrever aquilo que quer é sagrado. Mas acho que a poesia deve ser como o sal, q.b., e usada em excesso torna tudo ensosso (afinal, não é como o sal).

Paciência – Isto é uma provocação. Se formos fazendo zapping por vários blogs aleatoriamente encontramos muitos posts exaltados, indignados. Criticam, pedem coisas, recusam outras, ameaçam. E qual o resultado disto? Nada! É só fogo de vista, um teclar de pantufas com comando de televisão ao lado. Só posso concluir que são pessoas com muita paciência, caso contrário já se tinham organizado, criado associações, tentado erigir projectos alternativos.


EM FALTA

Autocrítica – Não se trata de um problema exclusivo dos blogs. É um defeito de uma cultura afrancesada, em que a estética das palavras supera o seu sentido. Muitos bloggers já têm adoptado uma dinâmica mais anglo-saxónica, com bastante mais vida, mas se vivemos tempos de globalização, porque não explorar outras possibilidades que nos podem dizer muito mais? Passando este à parte, é raro encontrar autocrítica na blogoesfera. Mas quem não faz uma avaliação rigorosa do que disse é porque também não se leva muito a sério.

História e estórias – Talvez fossem as duas coisas que mais enriquecessem a blogoesfera e a tornassem mais humana. É raro encontrar uma estória interessante, clara, directa, real ou ficção. Fácil é encontrar pessoas que saibam escrever bem, mas contar uma estória implica ter outras capacidades, outros talentos. Por outro lado, muitas vezes tem-se a impressão, ao ler muitos posts, que o mundo começou ontem, porque o esquecimento do passado é enorme. Também, alguém já tinha dito que a História só servia para cometer os mesmos erros de formas mais imaginativas.

Interacção criativa – A blogosesfera é um conceito meio incerto. Alguns ainda tiveram o ensejo de marcar uma agenda, pela qual todos os blogs seguiriam. Obviamente que tal nunca sucederia num local de liberdade. A escrita de um blog é coisa solitária, mesmo quando os blogs pertencem a várias pessoas. Os sistemas de comentários abrem um pouco o círculo, e percebe-se que existem várias esferas. Essencialmente os leitores de blogs e quem os comenta são também eles mesmos bloggers. É como se formassem pequenas comunidades, com frágeis ligações que se podem romper com facilidade. Quando digo que falta interacção criativa penso que cada blog está, em geral, demasiado fechado sobre si mesmo, só se abrindo para tentar rebater argumentos ou para apoiar os seus. Mas daqui nada novo surge. Não sei se existe alternativa, se é possível esbater as fronteiras entre blogs. Sem empatia será difícil.



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terça-feira, julho 06, 2004

De volta à ilusão (2)


Serve este post para mostrar a minha total discordância pelas afirmações sobre o Euro 2004 e o comportamento dos portugueses. A “versão oficial” diz que os portugueses se encontraram durante 3 semanas alheados da realidade, anestesiados, a viver numa ilusão que, infelizmente, não se concretizou na sua totalidade com a derrota na Final.

Penso, pelo contrário, que estas três semanas constituíram um despertar de grande parte dos portugueses. Obviamente que não se trata do despertar espiritual na sua plenitude, no entanto, contém alguns dos seus elementos. Existe o elemento da transcendência, do entregar-se a algo que não está seguro. Existiu também o vivenciar do aqui e do agora, e apesar dos objectivos serem comuns a quase todos, isso implica um sentimento íntimo distinto para cada pessoa.

Quando se diz que os portugueses andaram anestesiados isso significa que não andaram tão tristes, negativos e pessimistas como de costume. Mas serão os portugueses mesmo um povo condenado a um pessimismo e tristezas infindas? Na verdade, penso que os portugueses são muito teatrais. Fingem tristeza, pessimismo, o sofrimento de maleitas sem fim, mas acabam sempre por se rir e a contar anedotas. Falta-nos acreditar que é possível ir mais além, e talvez tenha sido essa a novidade do Euro 2004, onde de facto fomos mais além e se acreditou.

Os nossos observadores de pedestal fizeram notar que os noticiários apenas falavam de futebol, eclipsando as outras notícias, e o povo se entupiu de futebol esquecendo tudo resto à sua volta, nem reparando na “crise” política em vigor. O que mais me repugna nestas “observações” é virem de pessoas que de observadores nada têm, porque apenas têm contacto com os seus iguais, lançando olhares fugazes para tudo o resto, comentando de forma estereotipada e com ares superiores. Falam do povo, mas não conseguem compreende-lo, porque sempre se esforçarem para dele serem diferentes. E nem por um momento têm a coragem de pôr os suas ideias à prova, com uma simples análise lógica.

Será possível alguém minimamente são ter passado 3 semanas a pensar apenas em futebol? Não reparei que alguém tivesse deixado de trabalhar à minha volta, o trânsito continuou a circular, ninguém deixou de fazer o que antes fazia. E será que o facto das notícias serem dominadas pelo futebol significou perder algo? Pior que não ter informação é ter má informação, como acontece por cá, onde as notícias não passam quase de propaganda “anti-qualquer-coisa” ou “pró-qualquer-coisinha”.

É certo que o Euro 2004 foi uma má altura para os Profissionais do Ódio, como em tempo os chamei. Numa altura em que se vive um ambiente positivo, torna-se complicado os apelos a lutas obscuras, à convocações do ódio, da raiva mal dirigida e das invejas. Para os que sobrevivem destas misérias humanas é sempre triste ver que não há terreno para as suas sementes malignas.

O Euro 2004 foi uma boa experiência, e algo semelhante de certo não se irá repetir durante as nossas vidas. Mas não nos iludamos. Foi apenas um campeonato de futebol, e nunca nenhum país deu um salto fenomenal por ter realizado algum. Mas a extraordinária mobilização humana que ocorreu talvez nos possa dar pistas para outras realizações, talvez mais modestas mas de maior frequência.



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segunda-feira, julho 05, 2004

De volta à ilusão (1)


Pela manhã, apenas o ruído das máquinas se ouve, enquanto as pessoas em filas se calam. Tristes, porém sem pensar, sem queixas e suspiros. Fugazes imagens se lhes formam na mente, de explosões de alegria e de desilusão pressentida.

As misérias do espírito tenazmente resistem à remoção. Mais do que as incertezas sobre o futuro, pesam as incertezas sobre a nossa vontade. Será nosso destino morrer em paz ou vivermos exaltados?



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quinta-feira, julho 01, 2004

O Futebol e a tristeza


Quem assista apenas às transmissões televisivas irá pensar que todo o país se uniu em torno da Selecção Nacional Portuguesa (SNP). Esta é uma altura em que o entusiasmo se justifica. De certo não teremos outra oportunidade, nas próximas décadas, para assistir a um Campeonato Europeu realizado em Portugal em que a SNP chegue à final. Final essa que nunca tenha sido atingida numa prova deste género.

As vitórias da SNP têm sido merecidas, e vêm convencendo cada vez mais da sua consistência. O público genuinamente apoia a selecção e mesmo após a desilusão da primeira partida não desanimou, apesar de na altura a crença ser pouca. Mesmo em termos de organização tudo tem corrido de forma pacífica. Mesmo a construção dos estádios, que todos diziam ir ser quatro ou cinco vezes mais do que o previsto, acabou por ser razoavelmente controlada (se foi justificada a construção de tantos estádios é outra conversa). Depois não aconteceu a hecatombe de violência, hooliganismo, atentados terroristas que os nossos comentadores azedos também previram.

Num país com sérios problemas de enfrentar a sua história e os seus símbolos nacionais, foi algo surpreendente ver a aderência das pessoas na colocação das bandeiras nas suas casas e viaturas. Em teoria não simpatizaria com estas acções, mas convenceu-me ver que se tratou de um movimento espontâneo e não uma manipulação por parte de alguns indivíduos obscuros. E vamos falar claramente sobre isto, porque a selecção antes do início do campeonato não teria muitas certezas sobre o apoio que teria. Não só pela fase de preparação meio cinzenta, mas muito em especial pela horda de comentadores nos meios de comunicação social empenhados em deitar abaixo a moral da SNP.

Como podia a grande massa dos portugueses dizer à SNP que estavam com ela, sem ter acesso aos meios de comunicação social? A resposta foi a colocação de bandeiras. Apesar da bandeira ser um símbolo, algo frio, ligado a um sentido nacional meio obscuro e com diferentes interpretações, neste momento desempenha uma função diferente e inequívoca. Usar a bandeira, nesta altura, é como esboçar um sorriso que mostra apoio e confiança. No fundo, é uma forma de transmitir emoções e energia. E parece que tem resultado. Obviamente que esta troca de emoções irrita bastante quem não tem capacidade de as sentir, e de forma invejosa tenta deturpar o significado que não compreende.

Mas colocar a bandeira tem sido uma acção que tenta fugir à dualidade. Entre vizinhos, não interessa quem coloca a bandeira maior e no ponto mais alto. Nem interessa se o vizinho ao lado optou por não colocar. Isto porque se trata de uma acção directa da pessoa para a SNP e, de certa forma, para si mesma. As mentes mesquinhas, mesmo que intelectualmente brilhantes, nunca conseguirão compreender isto. No meu caso, não tive o dilema de colocar ou não a bandeira porque o fizeram por mim. Mas dei-me conta que me sentia bem ao ver que o número de bandeiras aumentava pelo país, de forma serena, e pelo que vi a densidade de bandeiras é muito semelhante em zonas pobres como em outras mais favorecidas.

E agora próximo da final, os portugueses parecem sentir-se estranhos. Não há ninguém que não acreditasse que fosse possível, mas também parece ter sido bastante inesperado... Muitos de nós ansiavam pela derrota, já anteviam as conversas de café onde iriam falar mal de tudo. Começando por Scolari, depois os mais antigos (Figo, Rui Costa, Fernando Couto), que já deviam ter abdicado, dos mais novos que não tinham fibra, depois atirar as culpas da derrota consoante os clubes. Para estes tem sido uma desilusão. Alguns converteram-se e agora mostram entusiasmo, com a habitual falta de coluna vertical que já nos habituaram. Outros ainda mostram um rancor mal disfarçado, com laivos de xenofobismo. Mas se há coisa que este campeonato tem mostrado, é que estas pessoas mesquinhas e vazias são uma minoria. Uma segunda vitória para o país...



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