terça-feira, maio 23, 2006

Insignificante

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Esta planta é muito pequena, escassos centímetros. É também muito comum, tanto que quem anda pelo campo a pisa sem remorsos. Podemos dizer que é insignificante.

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Carrilho e o Careto

CARRILHO

Por acaso apanhei ontem o programa Prós & Contras, mesmo quando Carrilho estava em primeiro plano. A minha aversão visceral ao sujeito quase me obrigou a desligar a TV, mas algo me disse que se o fizesse podia perder um espectáculo ímpar. Do painel, apenas Pacheco Pereira era, à partida, uma figura sobre a qual nutria respeito, apesar de não estar sempre sintonizado com ele. Por incrível que pareça, há quem tenha a opinião de que Carrilho foi o “menos mau”. Quem diz este tipo de coisas já parte de premissas niilistas, mas mesmo assim não compreendo como se pode fazer uma avaliação deste género.

Até posso perceber que alguém tenha achado a prestação de Emídio Rangel adequada, não entrando pelo caminho do insulto, levantando algumas questões pertinentes sobre a má qualidade do jornalismo, apesar dele ter evidentes responsabilidades nalgumas das piores coisas vistas na TV. Também compreendo quem se tenha entusiasmado com a prestação de Ricardo Costa, que de forma sóbria e conseguindo sempre controlar o ódio em relação a Carrilho, lhe foi desmontando os argumentos e apresentando factos que provam a falta de carácter do filósofo. Mas também estou do lado daqueles que acharam Pacheco Pereira o mais equilibrado, por não ter entrado numa pessoalização excessiva, indo mais às ideias, citando serenamente o livro com exemplos onde Carrilho não foi sério mas reconhecendo a este a razão quando esta lhe assistia.

Agora o que é para mim um mistério é alguém poder achar que Carrilho esteve bem. O homem interrompia, não para dizer algo mas apenas para tentar impedir que outros falassem, insultava de forma histérica, usava todo o tipo de falácias para colocar na boca de outros coisas que eles não diziam, foi apanhado a mentir diversas vezes e constantemente fez o papel do hipopótamo a dizer que o crocodilo tem a boca grande. Não é a arrogância ou a vaidade em Carrilho que o tornam tão desagradável, que são características que outras pessoas também possuem mas ainda assim conseguem criar empatia. O que o trama é mesmo a falta de carácter.


EUROFESTIVAL DA ESTUPEFACÇÃO

Pois é, o comentador não gostou, ganharam os metaleiros vestidos de monstros, que horror. Os finlandeses levaram um estilo de música ao festival onde têm alguns pergaminhos, porque são oriundas deste país algumas das melhores bandas de metal do mundo. Não é o que se costuma ver por lá. E pensando bem, o que se costuma ver por lá? Por um lado, há os refogados do género da música representante de Portugal, com uma aposta semelhante a algo que já tenhamos ouvido antes e assim ficar mais rapidamente no ouvido. Há também aqueles que introduziram algum elemento étnico, mas ainda assim de forma tímida, caindo sempre em concessões a favor do mainstream. Há ainda quem apresentasse canções num estilo mais puro, com melodias mais trabalhadas, maior predominância da voz, mas com já tantas boas canções escritas, ficam sempre aquém do que já existe.

Se há algo realmente criticável foi a representação portuguesa e tudo o que esteve por trás, que já em tempos escrevi sobre. Havia a convicção de que das canções participantes, a eleita era aquela que teria maiores probabilidades de ter sucesso “lá fora”. Não era a melhor, era óbvio que não, canção estereotipada e mal interpretada (ainda mais no festival com enganos óbvios). Os Chico-espertos do júri lá acharam que era isto que estava a dar. Enganaram-se, mais uma vez os últimos lugares ficaram garantidos. Estes mesmos iluminados acharam os caretos demasiado estranhos para um festival da canção, meu Deus, o que iriam dizer lá fora? Mas isto é uma boa metáfora do país, medo de arriscar, apostar sempre em fórmulas mais simplistas, com o mínimo risco possível e depois, não perceber que a aposta sem risco foi a pior de todas, mas para o ano a aposta há-de ser semelhante porque a memória é curta e a estupidez é longa.

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terça-feira, maio 16, 2006

Dois caminhos

O indivíduo A “escolheu” o caminho X para a sua vida. O caminho X não está definido à partida mas é como se estivesse, pois resume-se ao que “está certo”. Na prática, o indivíduo A usa a sua intuição para descobrir a atitude certa a cada momento, que quase sempre cai em dois extremos, o da ditadura da maioria ou o da ditadura de alguma minoria. Estando sempre do lado de causas de força, nem que seja a força do hábito, a vida simplificasse e as escolhas essenciais estão reduzidas a quase nada. O êxito social e pessoal, depois de entranhados os valores certos, é fácil de atingir ou no mínimo há uma receita garantida para lá chegar.

O indivíduo B foi escolhido pelo caminho Y. Escolhido porque sente que nunca teve alternativa. O indivíduo B duvida que exista o caminho Y, nem tem a certeza que exista tão só o caminhar, sabe apenas que não segue o caminho X. Em jovem, o indivíduo B acreditava que só outros como ele podem realizar verdadeiras obras de criação, porque o caminho X conduz sempre à anulação das diferenças. Acredita ainda que, se existe um caminho Y, o sucesso consiste não em cumprir com determinados preceitos mas sim em criar novos valores. Contudo, o caminho Y conduz unicamente à loucura.

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terça-feira, maio 02, 2006

A arrogância que afinal era inveja

A arrogância tornou-se num pecado laico. Não que não tenha também a sua vertente religiosa, mas do ponto de vista secular a arrogância tem uma carga bastante forte, que leva a generalidades dos indivíduos a temer serem chamados de arrogantes. O mundo temporal é essencialmente intuitivo e de constantes apelos à memória selectiva para assim poder albergar todo o tipo de contradições. Com este post pretendo lançar algumas ideias sobre 3 tipos de arrogância.

Em primeiro lugar considere-se a arrogância com mérito, ou seja, o indivíduo que é bastante arrogante mas que pode justificar-se porque, em termos objectivos, é realmente muito bom naquilo que propala. Este tipo de pessoa pode ser insuportável ou provocar algum fascínio, mas em geral são-lhe reconhecidos os méritos. Contudo, há uma ideia errada sobre esta arrogância, que se supõe estar presente naquele indivíduo “24 horas por dia”. Isto não é de todo possível porque para alguém ser bom em algo teve e tem de despender uma grande quantidade de tempo a aperfeiçoar-se de forma humilde, porque só assim pode atingir a excelência.

Depois temos a arrogância de fanfarronice. Este tipo de arrogância é um bom barómetro para avaliar o grau de coragem e alienação de um grupo, porque se passar em claro é porque estão todos meio ausentes da realidade ou acobardados. Infelizmente, este tipo de arrogância é aceite como natural. O indivíduo arrogante sem qualquer mérito notório é frequentemente uma pessoa de sucesso. O seu estilo é quase sempre incisivo e um pouco ameaçador, o que faz com que raramente o chamem de arrogante.

Por último a arrogância que afinal era inveja. Como se pode depreender, não se trata de uma verdadeira arrogância mas é com frequência acusada de tal. Acontece aos indivíduos que falam de forma segura sobre os mais variados assuntos e que provocam inveja a alguns. Costuma ocorrer em trocas de argumentos em que uma das partes é coerente, segura, clara e a outra, com falta de “armas”, faz uma acusação de arrogância. É uma tentativa eficaz de colocar o outro na defensiva, que de certa forma se sente obrigado a abdicar da sua clarividência. É curioso que, por norma, quem faz a acusação de arrogância é quase sempre incapaz de a fazer também ao fanfarrão arrogante, por temer a sua reacção. Ou seja, só acusa de arrogância aqueles que sabe que não o são e que, por isso, reagirão confundidos e sem grande ímpeto.

As diferenças entre o primeiro e o terceiro tipo de arrogância são breves. A arrogância com mérito pode transformar-se em apenas confiança. Mas o indivíduo que não é arrogante mas apenas confiante pode sentir-se tentado em tornar-se arrogante. Esta última situação pode constituir uma grande degradação, porque o indivíduo pode perder alguma clarividência e, sem se dar conta, aos poucos tornar-se num mero arrogante fanfarrão, sem grandes méritos.

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