Civilização e religião (5)
Uma das ideias mais famosas de Nietzsche diz que não há verdades, apenas interpretações. É espantoso que tão poucos tenham percebido a ironia, já que a afirmação só pode ser verdade se o não for. Tudo passou a ser uma questão de ponto de vista e exprimir essa ideia pueril, das mais diversas formas, é tido como algo altamente inovador. Há versões para todos os gostos, desde as rebuscadas teorias de Foucault, que afirmam que o que tomamos por verdades são um «epistema» do discurso dominante, até às efabulações feministas, que asseguram-nos que a sexualidade e o género são meras construções sociais, sendo o extremo a denúncia da famosa equação de Einstein (E=mc2) por Luce Irigaray como sendo parte de uma física machista.
Os currículos que se focavam no estudo da cultura ocidental eram imparciais e apolíticos, na medida em que quem os frequentava não iria ter a sua ideologia determinada. Já os novos currículos, com a ênfase na perspectiva, são assumidamente políticos, começando logo por ter por principal desígnio a denúncia da cultura ocidental por supostamente ser sexista, racista, homofóbica, etc. Apesar de assumirem uma veia crítica, os proponentes das teorias “da perspectiva” não admitem qualquer criticismo em relação a si mesmos, não hesitando em “purgar” os não-alinhados.
O máximo que podem admitir sobre a imparcialidade dos antigos currículos é que se trata de uma imparcialidade ocidental, que bloqueia outros pontos de vistas. Mas podemos também perguntar até que ponto estes modernistas libertaram-se eles mesmos do lastro ocidental. Em que outra parte do mundo, sem ser no mundo ocidental, vemos activistas do feminismo, direitos dos homossexuais, da libertação sexual, etc. a poder expressar-se livremente e a ter real poder de influência na sociedade?
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