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OS VALORES OCIDENTAIS REVELADOS PELA ESCOLÁSTICA (2)
Outro conceito que foi desenvolvido por Aquino, segundo Michael Novak, foi o de consciência, neste contexto subentendido como consciência moral. O conceito não remonta aos antigos gregos ou romanos e apenas está implícito na Bíblia quando surgem conflitos interiores. Nos tempos modernos a vida moral é entendida, segundo a formulação de Kant, como o cumprir de uma série de deveres. Mas para o cristianismo antigo a vida moral era um caminho a percorrer, antes delineado por santos e homens notáveis, sendo o arquétipo de modelo de vida o próprio Cristo. Aquino preocupou-se em saber como se devia cumprir esta vida moral em termos práticos, tendo em conta que cada pessoa vive circunstâncias únicas e irrepetíveis. É neste ponto que o conceito de consciência se torna útil, definindo-se um conhecimento prático, a impor pela força do hábito, que conduz ao discernimento da atitude correcta a tomar em cada momento e quando existe afastamento desse discernir aparece o remorso. A consciência extinguir-se-á devido a falhas frequentes ou ao deliberado afastamento.
O conceito de pessoa foi-se tornando necessário à medida que a reflexão sustentada da Bíblia avançava. Havia que encontrar um conceito que unisse a natureza dual de Jesus Cristo, humana e divina – daqui ocorreu a génese do conceito de pessoa. A pessoa seria uma substância com capacidade de interiorização e de escolha livre e responsável. Enquanto a noção de indivíduo pode-se aplicar a animais, por pessoa entende-se algo que vai mais além, a quem se pode pedir responsabilidades e reconhecer uma maior dignidade. Com este conceito desenvolvido os missionários tinham argumentos para pedir um tratamento mais humano para povos indígenas no novo mundo e no oriente, ao que os aventureiros europeus não mostraram uma grande abertura. Os autores federalistas americanos perceberam que era necessário interiorizar estes princípios nos hábitos e incorporá-los nas instituições com o sistema de checks and balances.
A GÉNESE DA CIVILIZAÇÃO
Russel Kirk, no seu ensaio “Civilization Without Religion”, indica o contributo que a religião terá dado à civilização. Seguindo a linha de historiadores como Christopher Dawson, Eric Voegelin e Arnold Toynbee, Kirk dá uma resposta que surpreende pela sua simplicidade. A cultura emergiu do culto, entendido como a reunião de pessoas que têm em comum o desejo e a prática da adoração de um poder transcendental. Forma-se assim uma comunidade que pode crescer e cooperar das mais diversas formas, como na defesa comum, na agricultura e, aos poucos, criando instituições mais complexas e abstractas, como o aparato legislativo. Uma grande civilização nos nossos dias é um intricado de culturas que tiveram origem em pequenos nódulos de adoração, há milhares de anos atrás, na Palestina, Grécia e Itália, por exemplo.
O culto religioso perdeu a sua força, os templos modernos têm uma arquitectura horrível, longe de ser inspirada pela imaginação religiosa, parece querer antes transmitir a ideia de que o homem é realmente desprovido de alma. Para alguns, este declínio religioso é um triunfo civilizacional, porque podem mergulhar de cabeça na ilusão da liberdade sem responsabilidade, pensando que é uma situação que se pode eternizar sem consequências. Mas a civilização que abandona a inspiração religiosa está condenada a fragmentar-se em átomos. Este perigo é reconhecido até por ateus, que propõem um substituto laico. O ideal nacionalista é constantemente sugerido, sendo bem conhecidas as experiências que o levaram ao extremo, com as piores consequências. Para Kirk não haverão ideais que tenham a mesma força e consequências benéficas que aqueles que a religião já nos ofereceu. Olhando para o histerismo doentio da ideologia ideológica, que se propõe a ser a grande unificadora global, não deixo de pensar que terá muita razão.
A IMPORTÂNCIA DA CULTURA – 4ª PARTE Roger Scruton acaba a sua palestra com uma nota de esperança, confiando que nem todos os estudantes acreditam nesta farsa moderna e basta que um professor consiga lhes abrir os olhos para a verdadeira descoberta do “livro” para que isso provoque um desejo inabalável de maior iluminação, o que acabará por levar à constatação óbvia da grandiosidade da cultura ocidental.
O que se ensinava nas universidades pode ser chamado de alta cultura, que é uma emanação da cultura comum que começamos a adquirir desde a nascença. É a alta cultura que perpetua a memória da partilha colectiva, numa exaltação que torna tudo natural e sereno. A cultura comum, que em grande parte traduz os costumes da sociedade, deriva da religião e, sem esta, tudo se fragmenta. Várias instituições sobrevivem ao colapso das religiões, englobadas em movimentos que tentam fomentar outro tipo de partilhas comuns, como a nacionalidade.
É uma ideia que se tem tornado comum que todas as realizações positivas da civilização ocidental derivam de um afastamento da religião. Acontece que foram Jesus e São Paulo os primeiros a pedir a separação entre a religião e o Estado, e os valores de solidariedade e liberdade individual advém dos fundamentos do cristianismo. A tentativa de exterminar a alta cultura dos currículos universitários acaba por levar o homem erudito a separar-se da religião e, ao fazê-lo, cria um afastamento deste em relação ao homem comum.
As próprias alternativas aos currículos tradicionais acabam por ter um carácter teológico. As suas premissas são tidas como inquestionáveis e quem o tenta fazer recebe um de dois tratamentos. Ou é ignorado ou fica com o ónus da prova. Quem assume a defesa das causas progressistas foge do debate de ideias ao inverter o ónus da prova, afirmando que são os cépticos que têm de provar que eles estão errados e não eles que têm de mostrar que estão certos. Em tempos de menor alienação este crime contra a inteligência devia causar um calafrio, uma vez que é um método que serve para validar qualquer tipo de ideia, uma vez que elas deixam de valer pelos seus méritos mas sim pela inépcia dos que se lhes opõe. Na realidade a situação é bem mais grave já que quem domina as universidades são as mentalidades progressistas que não têm qualquer pudor em censurar e vetar as personalidades que não se vergam à sua ideologia. p>
A IMPORTÂNCIA DA CULTURA – 2ª PARTE
Tenha-se em atenção o seguinte excerto, de autoria de Gayatri Chakravarty Spivak:
The rememoration of the “present” as space is the possibility of the utopian imperative of no-(particular)-place, the metropolitan Project that can supplement the post-colonial attempt at the impossible cathexis of place-bound history as the lost time of the spectator.
Aqueles que possuem um domínio modesto da língua inglesa não devem ficar frustrados por terem tido dificuldades em perceber o que acima se transcreveu. A frase é objectivamente incompreensível. Depois de Alan Sokal e Jean Bricmont terem escrito “Intellectual Impostures” deixou de haver receio de rir deste tipo de elucubrações sem sentido. Estes autores, de simpatias socialistas, acreditam que a melhor forma de transmitir as suas convicções esquerdistas acontece através da via racional e objectiva. Mas quando se adopta este caminho e se encontra um adversário com um mínimo de talento, as ideias socialistas acabam por ser desmontadas com relativa facilidade.
A utilização da linguagem obscura e pretensiosa (“Gobbledygook”) é uma forma muito mais eficaz de transmitir e proteger as crenças de esquerda. Apesar de parecer um contra-senso, verifica-se no mundo intelectual uma espécie de Lei de Gresham (a má moeda expulsa a boa moeda). A sobrevivência e propagação deste tipo de teorias que a modernidade nos trouxe depende de uma concepção que torna o seu escrutínio impossível ou muito difícil de realizar. A refutação de uma teoria torna-se indesejável quando ela está impregnada de uma postura política largamente aceite. Contudo, a própria refutação torna-se impossível quando essa teoria cria à sua volta uma muralha inexpugnável de “nonsense”.
Vejamos com mais atenção o exemplo acima citado. É preciso assumir um contexto em que tantos os autores das modernas teorias literárias como os seus potenciais leitores acreditam que a cultura ocidental é pesado fardo cuja remoção é essencial fazer. A teoria exprime isso através de pistas, no exemplo em questão as referências ao imperativo utópico, a um projecto metropolitano, a uma tentativa pós-colonial. Por outro lado, a linguagem utiliza uma série de estratagemas, como a invenção de palavras (“rememoration”), importação indevida de tecnicismos (“cathexis”), citações inexplicáveis (“present”), parênteses inesperados (“no-(particular)-one”) e referências a abstracções como espaço e tempo que neutralizam o processo normal de raciocínio. Tratam-se de teorias teológicas e não científicas porque não estabelecem nenhuma ideia concreta, antes, assumem-na e protegem-na contra o escrutínio da razão.
A IMPORTÂNCIA DA CULTURA – 1ª PARTE
Os próximos posts resumem a palestra “Culture Matters”, de Roger Scruton.
Havia esperança na reconstrução da Europa depois do término na Segunda Guerra Mundial porque as nações, tanto as vencedoras como as derrotadas, tinham sido moldadas por dois mil anos de cristianismo e direito romano. Comunismo, fascismo e nazismo eram vistos como traições a essa herança cultural e o essencial era voltar a recuperá-la. Esta mentalidade estava presente nas pessoas que estabeleciam os currículos universitários das áreas humanas, apontando-os para a cultura ocidental.
Trata-se de uma herança multifacetada que joga uma dialéctica entre a fé cristã e o cepticismo iluminista e a apreensão de ambos permite elaborar uma síntese que os transcende. Este consenso em redor da importância da cultura ocidental não criou um exército de intelectuais a falar a uma só vez, pelo contrário, cada um acabaria por seguir uma tendência específica, alguns optando por estudar as criações inspiradas na fé, outros dando à ciência uma importância central. Em termos políticos esta formação base não impediu o surgimento de socialistas, liberais e conservadores, porque a política ainda era vista como matéria de opinião e a cultura uma forma de conhecimento superior, indispensável para conhecer o sentido da vida se abordada a partir de uma postura crítica que, ao mesmo tempo, impediria a degradação dessa mesma cultura. O foco na cultura ocidental acabava por abrir caminhos para universalismo, lembrando apenas nomes como Mahler, Vang Gogh ou Pound que faziam a ligação ao extremo oriente.
Esta forma de educação, aberta tanto à crítica como ao enlevo, era sentida, após a alienação da adolescência, como a entrada numa catedral, um local de julgamento, discriminação e alusão, onde tudo passa a estar carregado de sentido. Apesar da conotação religiosa, tratava-se de uma abordagem onde os não crentes sentiam-se igualmente tocados sem a sensação de submissão a um programa ideológico.
O panorama actual na maior parte das universidades alterou-se radicalmente. A cultura ocidental ainda é um tema importante mas passou a ser vista como agressiva, culpável e estranha em relação ao mundo actual. O professor acha que a sua principal missão e instigar o aluno contra a sua própria cultura e propor um dos inúmeros métodos alternativos, cuja prodigiosa variedade parece apenas confirmar que a cultura «clássica» agrilhoava toda esta saudável efervescência. É o neo-marxismo (Frederic Jameson), o estruturalismo (Roland Barthes), o pós-estruturalismo (Michel Foucault), o desconstrucionismo (Jacques Derrida), o pós-modernismo (Jean-François Lyotand), o neo-historicismo (Stephen Greenblatt), o pós-colonialismo (Eduard Said), o neo-pragmatismo (Richard Rorty), a que se juntam as teorias “queer” e feministas.
Uma tão grande profusão de correntes em poucas décadas não se deve certamente a um surto de genialidade mas a um excesso de auto-convencimento. Se ao invés da busca sobre o que diferencia estas correntes procurarmos os pontos que têm em comum, a variedade esvai-se num ápice, logo à cabeça com o desígnio comum de combater a cultura e a civilização ocidentais. Outras características comuns revelam-se na linguagem obscura e pretensiosa e num programa político subjacente.
Monte Fuji ou Fuji-san, como dizem os japoneses.
Porta Torii do santuário xintoísta de Katori Jingû. Santuário xintoísta de Katori Jingû. O respeito pela Natureza advém naturalmente da prática xintoista, aqui demonstrado próximo da entrada do santuário de Kashima. Parque para bicicletas num centro comercial em Kawasaki. Harajuku, umas zonas de Tóquio mais frequentadas por jovens no fim de semana. Ao lado da estação de Harajuku fica o jardim de Meiji, com 175 hectares. Apenas durante algumas semanas do ano se podem ver as cerejeiras em flor. Em certos locais, como no castelo de Odawara, encontram-se idosos sentados desenhando estas paisagens, que eles não poderão ver muito mais vezes. Entrada do recinto do castelo de Odawara. Castelo de Odawara. Mais uma vista de Odawara. Cerejeiras em flor perto do santuário de Katori Jingû. Dôjô de Kyudô em Kamakura, orientado por Maky Kudo, Kyoshi. Tiro de cerimónia, pelo mestre Nobuyuki Kamogawa, Hanshi 10º Dan. Cerimónia no Budokan de Tóquio em 13 de Abril de 2007. O silêncio era tal que se ouvia o sistema de ar condicionado a funcionar. Princesa Takamadonomiya Hisako discursando no Taikai comemorativo da fundação da Fedaração Internacional de Kyudo, em 13 de Abril de 2007. A princesa é patrona desta arte e representa a ligação à casa imperial. Demonstração de tiro de guerra - "Koshiya Kumi Yumi".
As portas Torii encontram-se um pouco por toda a parte no Japão, tanto no meio das cidades como em locais isolados no campo. Marcam a entrada dos santuários xintoístas e, actualmente, são construídas não só em madeira mas também em metal e betão, podendo ainda ter várias cores, normalmente o vermelho mas também a cor do material de que é feito. O xintoísmo é uma religião largamente animista e das poucas coisas realmente indígenas no Japão. De certa forma é um mistério a forma como o xintoísmo interagiu e deixou ser-se influenciado pelo budismo, ao ponto de quase todos os japoneses serem praticantes de ambas as religiões.
As bicicletas são um dos meios de transporte mais utilizados pelos japoneses, havendo parques de estacionamento só para elas. A área metropolitana de Tóquio é habitada por mais de 30 milhões de pessoas, que utilizam o comboio e o metro como principais meios de deslocação, complementados pelas bicicletas de custo reduzido para percursos mais curtos. Apesar de ser uma cidade com alta densidade urbana, Tóquio preserva no seu interior jardins imensos que cobrem uma parte significativa da zona central.
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